Prêmio FOCO 2022
Como parte da premiação, os artistas selecionados recebem a oportunidade de participar de programas de residência nas mais diversas regiões do território nacional, criando redes de troca, aprendizado, aliança e colaboração entre agentes de diferentes contextos.
Ao longo das últimas décadas, o mercado de arte no Brasil se profissionalizou de maneira desproporcional frente a outros agentes do mesmo sistema. As parcerias construídas pelo Prêmio FOCO com os espaços autônomos fortalecem também essas fundamentais organizações.
Em 2022, com o apoio visionário e generoso do Instituto Cultural Vale, o Prêmio Foco ArtRio apoiará seis artistas e seis espaços autônomos. O Comitê de Seleção, formado pelos representantes das residências parceiras Consuelo Bassanesi, Francisca Caporali, Priscila Gama, Rebeca Carapiá, Rose Afefé e Samantha Moreira e por representantes do Instituto Cultural Vale Gabriel Gutierrez, Hugo Barreto, Ronaldo Barbosa e Wagner Tameirão, além do diretor do Prêmio FOCO Bernardo Mosqueira e da curadora Ana Clara Simões Lopes, anuncia e parabeniza os selecionados nesta edição:
Selecionados Prêmio FOCO 2022 e suas residências
Alice Yura (1990, MS) >>> Despina
Andréa Hygino Rodrigues da Silva (1992, RJ) >>> JA.CA
Edgar Pereira da Silva (1993, SP) >>> Afefé
Iagor Joao Barbosa Peres (1995, RJ) >>> Irê
Lucimélia Aparecida Romão (1988, SP) >>> Chão
Priscila Rooxo (2001, RJ) >>> Das Pretas
Viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. A cultura está em todos os cantos do Brasil, dos artistas e manifestações culturais que todo mundo já conhece até aqueles que todo mundo precisa conhecer.
Neste sentido, o Instituto Cultural Vale se une à ArtRio para a realização do Prêmio Foco 2022: para descobrir, fomentar e difundir aqueles que fazem a arte visual no país e levá-los além.
Nos enche de alegria saber que este é o prêmio com o maior número de inscrições desde sua criação, com busca recorde de mulheres e que, pela primeira vez, fará a seleção de seis artistas em uma mesma edição. Ainda, nossos espaços culturais - Museu Vale, Memorial Minas Gerais Vale, Centro Cultural Vale Maranhão e a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás -, com suas características e vocações únicas, se unem às residências parceiras deste ano no Comitê Curatorial e reforçam este movimento com seus olhares voltados para os talentos regionais.
Onde tem cultura, a Vale está.
Instituto Cultural Vale
Premiados
Alice Yura (1990, MS)
Direcionando sua pesquisa para a relação entre arte e vida, os trabalhos de Alice Yura (1990, MS) possuem forte ligação biográfica, articulando temas como memória, afeto, corpo, identidade, alteridade, biologia, política, sociedade e cultura. As obras “O Louco” (2022) e “O Fardo” (2022) surgem como derivações da performance “O Noivo” (2022), onde a artista veste-se com um terno e uma gravata de 4 metros e sai à deriva nas ruas oferecendo um pedaço da gravata em troca de dinheiro, como nos rituais festivos de casamentos cristãos. “O Louco” se dá em formato fotográfico, estático, onde o rosto e o corpo da artista estão presentes; já “O Fardo” é composto por um terno, uma gravata, uma urna e uma tesoura. Demarcando a ausência da artista, este trabalho pode ser ativado pelos espectadores que são convidados a completar a ação, cortando um pedaço da gravata e inserindo dinheiro na urna.
Andréa Hygino Rodrigues da Silva (1992, RJ)
Andréa Hygino (1992, RJ) se debruça sobre o ambiente escolar, os processos de aprendizado, disciplina, adestramentos, repetição e encontra na desobediência de estudante o lugar necessário de contestação e criação. Em seus trabalhos, as memórias de infância – da escola criada por sua mãe que funcionava em casa – se entrelaçam às experiências do presente enquanto artista-professora/professora-artista e à condição da educação pública no Brasil. Os problemas de acesso ao ensino público e de qualidade; da fome que tomou contornos mais evidentes durante a pandemia, quando o fechamento das escolas significou o fim das refeições para muitas/os alunas/os e as; das tensões e pequenas violências que atingem os corpos de estudantes no cotidiano escolar se veem refletidos no conjunto de trabalhos apresentado nesse estande: Ensino Superior (2022), Série Mordido (2019-2022) e Série Tipos de Comer (2022).
Edgar Pereira da Silva (1993, SP)
Poeta, músico, artista plástico e performer, Novíssimo Edgar (1993, SP) é um homem afro-indígena queer. Criador compulsivo, sua obra musical e visual é autêntica e livre em sua investigação de suportes e segmentos, explorando, simultaneamente, noções de futurismo indígena e da diáspora negra. Em “Sem Título” (2020), o artista articula uma proposta iconoclasta de memória. Nas obras “Cariri-Nagô” (2022) e “Ketu-Guarani” (2022), por sua vez, Edgar propõe representações que aludem vagamente a sua biografia, elaborando “quase auto-retratos”. Nestas costuras imagéticas, o artista reitera características que são também suas, ecoando a presença da pele pigmentada, buscando complexificar suas dúvidas a respeito do que é ser afro-indigena no Brasil.
Iagor Joao Barbosa Peres (1995, RJ)
A obra de Iagor Peres (1995, RJ) investiga as densidades e substâncias visíveis e invisíveis que compõem as relações no espaço. Os trabalhos aqui reunidos são desdobramentos da pesquisa “estudos para minha pele”, desenvolvida desde 2017 pelo artista com a elaboração da pelematerial – materialidade autoral composta por uma mistura de substancias sintéticas e orgânicas. Em sua pesquisa, Iagor dinamiza relações entre presença e desaparecimento, estar e não estar, ser e não ser visto. Tais dinâmicas acontecem em diferentes momentos da pesquisa e em obras do artista como o jogo online “When the matter is gone (2021)” e aqui podem observada na presença de pelemateriais na série “Estruturas para campos densos” (2019), passando por um outro estado da matéria na série “Escritos” (2022) e na retirada das mesmas em “A segunda forma da ausência” (2022). Cada uma das peças desse conjunto parte de momentos distintos – ainda que concomitantes – de uma mesma investigação, tangenciando ainda questões relativas às ideias de perenidade, agências extra humanas, racialização e os processos de categorização das coisas no mundo.
Lucimélia Aparecida Romão (1988, SP)
As investigações de Lucimélia Romão (1988, SP) transitam entre as artes visuais e cênicas, linguagens que a artista desdobra e busca amalgamar para dar conta da urgência de pautar a vida – especialmente a vida daqueles cujo os direitos básicos são negados, uma vez que as leis brasileiras têm sido criadas, desde o Brasil colônia, para reiterar essa negação. As ações artísticas propostas por Romão são, portanto, gritos cênicos para a suspensão da barbárie. As obras “MULHERES DO LAR – Mortes Anunciadas” (2022) e “Para Estancar o Sangue” (2021), aqui apresentadas, nascem do desejo urgente de Romão em abordar a violência que o estado hegemônico opera, diariamente, sobre os corpos dissidentes.
Priscila Rooxo (2001, RJ)
A obra de Priscila Rooxo (2001, RJ) parte de sua perspectiva sobre a existência da mulher periférica enquanto potência e base da sociedade. Tendo a figura feminina como eixo central, a artista conjuga questões de gênero, classe e território em pinturas que ilustram seu cotidiano afetuoso e íntimo. Podemos notá-lo em “Churrasquinho das minas” (2022) e “Pai de geral” (2022), em que as cenas representam momentos experienciados por Rooxo junto a amigas e familiares – nesta última, destacando-se a presença do falecido pai da artista.
Na série inédita ”Suporte Caro” (2022), por sua vez, Rooxo busca evidenciar o uso de materiais tidos como “nobres” por artistas jovens e periféricos, criticando a predileção por materiais “inferiores” (como papelão e resíduos) a estes muitas vezes designada. Num gesto tão simples quanto potente, a artista elabora imagens de mulheres trabalhadoras sobre linho, referenciando as presenças femininas fortes e fundamentais em seu cotidiano – como sua mãe, suas tias e amigas.