ArtRio 14a. edição | 25 a 29 de SETEMBRO de 2024 | MARINA DA GLÓRIA ArtRio 14a. edição | 25 a 29 de SETEMBRO de 2024 | MARINA DA GLÓRIA

Releia a entrevista do ganhador do FOCO 2019, Tiago Santa’Ana, pela primeira vez publicada online

05/04/2023 - Por ArtRio

Em 2020 a ArtRio conversou com o artista baiano Tiago Sant’Ana, ganhador do Prêmio FOCO 2019. A entrevista, que abordou os efeitos da pandemia em sua pesquisa e projeto de residência, havia apenas sido publicada no Catálogo ArtRio 2020. A publicação, comercializada no formato físico, é lançada anualmente pela feira para apresentar as galerias participantes do ano, seus projetos e traz entrevistas com artistas e curadores. Com a indicação de Tiago ao Prêmio PIPA e para que o público possa conhecer um pouco mais sobre seu trabalho, a publicamos agora também no formato online.


Tiago Sant’Ana  |  Ganhador do prêmio FOCO ArtRio 2019

Santo Antônio de Jesus, BA, 1990.

 

Ano passado [entrevista publicada em 2020] você foi, ao lado do Rafael Bqueer, um dos ganhadores do Prêmio FOCO ArtRio 2019 em um seleção feita pelo diretor do prêmio, Bernardo Mosqueira, junto com Camilla Rocha Campos e Alexandre Sequeira. Seu prêmio consistia em uma bolsa para um período de pesquisa e produção na Residência Capacete, aqui no Rio de Janeiro, durante o ano de 2020, que, bem, não foi exatamente um ano típico. A residência chegou a acontecer?

Não. A residência foi planejada, já possuía um cronograma, as passagens tinham sido emitidas, mas pouco tempo antes foi cancelada em razão da pandemia. Foi a decisão mais prudente naquele período porque não sabíamos o que realmente estava por vir.

Qual seria o projeto de pesquisa e produção da residência?

O projeto da residência era uma pesquisa documental sobre imagens e lugares relacionados ao período colonial e imperial no Rio de Janeiro, onde fica a residência do Capacete. Era uma proposta de imersão em arquivos, entendendo a dinâmica de construção da imagem da escravidão erigida, sobretudo, por viajantes europeus. 

Eu moro em Salvador e essas duas cidades, guardadas às diversas diferenças, tem passados próximos ligados por uma formação social com mão forte do sistema escravista. Ambas, ainda na contemporaneidade, sofrem com essas feridas coloniais. As hierarquias raciais e sociais são exemplos impossíveis de serem ocupados. E, obviamente, isso também resvala nos sistemas de arte e representação.

Na última ArtRio sua participação foi intensa, com obras no estande da galeria Roberto Alban, no estande do Prêmio FOCO e na Conversa ArtRio de tema “A arte em tempos de pós-verdade precisa ser política?”. Você consegue apontar a ligação entre todas essas suas múltiplas presenças na última feira?

Eu acredito que essas múltiplas participações tem muita relação sobre as questões que são levantadas pelas minhas obras. Estamos vivendo um período em que já não é possível deixar sob eclipse uma série de narrativas que estiveram com uma grossa camada de invisibilidade em decorrência de racismos e classismos. 

As obras que apresentei no stand da Roberto Alban Galeria, que me representa em Salvador, tinham ligação com o ciclo do açúcar no Brasil e sua relação com as desigualdades sócio-raciais. Os trabalhos do Prêmio conversavam muito com as que apresentei na galeria, era como um núcleo. 

A minha fala na sessão de conversas, ao lado da Virgínia de Medeiros e com mediação do Ulisses Carrilho, tinha como objetivo falar sobre como naturalizamos algumas verdades na arte. Dentre elas, a ideia de que arte e política são instâncias radicalmente distintas ou de que a arte é isenta. O debate foi bem acalorado. Um homem branco chegou a dizer que ele se via como negro. Outro dizia que ele não era obrigado a ser político. Eu respondi que omissão também é ter uma posição política.

Para voltarmos a esse 2020 cheio de surpresas, ao menos uma foi ótima. Em julho desse ano você foi anunciado como o primeiro brasileiro a receber a bolsa da Open Society Foundations para uma residência de 18 meses, a Soros Arts Fellowship. Na página oficial da sua indicação lemos que sua proposta visa a dar continuidade ao trabalho que vem desenvolvendo em engenhos de açúcar abandonados no Recôncavo Baiano, ligando a essa produção histórica com a desigualdade de atual. Como a proposta se articula com a sua produção anterior e com seu projeto de pesquisa para a Residência Capacete?

As duas pesquisas estão no mesmo universo, no entanto, seguem processos distintos. A bolsa do Soros Arts Fellowship tem como objetivo proporcionar a continuação do mapeamento das ruínas dos antigos engenhos de açúcar na região do Recôncavo da Bahia – uma localidade que teve um fausto colonial, mas a troco de muito sangue derramado e de um projeto de devastação natural profundo. Eu acredito que esses lugares, embora esquecidos, são testemunhas físicas dessas desgraças coloniais.

Já na residência do Capacete eu estou mais interessado em outro tipo de arquivo, um arquivo composto por representações e por narrativas sobre a colonização. 

Ambos estão imersos nos fluxos da história e da memória, que é o ponto fulcral da minha pesquisa como um todo.

E como o trabalho está se desenvolvendo esse ano?

Este ano todos os cronogramas desenhados foram readaptados. Eu me adaptei à quarentena trabalhando de casa, onde tenho um espaço em que instalei o meu ateliê temporário. Lá tenho me dedicado à pintura e realizado toda a parte de planejamento das ações que realizarei nas pesquisas dos engenhos de açúcar: dos croquis aos contatos com a equipe que estará comigo no próximo ano nas jornadas pelo massapê do Recôncavo da Bahia – uma terra tanto encantadora quanto desigual.


Essa e outras entrevistas e conteúdos foram disponibilizados exclusivamente no Catálogo ArtRio 2020, saiba mais aqui >>>

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