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Projeto Lorenzato busca identificar e catalogar a produção do artista mineiro

24/01/2023 - Por ArtRio

Lançado ontem, o Projeto Amadeo Luciano Lorenzato busca identificar e catalogar a produção do artista mineiro que lhe dá nome e que cujas obras, produzidas durante mais de seis décadas de atividade, encontram-se dispersas em coleções pelo mundo. A iniciativa toma forma no ambiente digital através da plataforma www.amadeolucianolorenzato.com e conta com o apoio do Itaú Cultural. Na ocasião do lançamento, a ArtRio conversou com Mateus Nunes, doutor em história da arte pela Universidade de Lisboa e coordenador geral do Projeto:

 

ArtRio: Como surgiu o projeto e a ideia desse modelo de plataforma?

Mateus Nunes: O projeto surgiu a partir de uma vontade do Thiago Gomide, presidente do conselho do Projeto. Mineiro assim como Lorenzato, o Thiago sempre foi atento à importância do artista, que tinha seus debates muito restritos a Minas Gerais e que precisava enfatizar a presença de Lorenzato na história da arte em um panorama mais amplo. Sensibilizou o Itaú Cultural da relevância da pesquisa, e conseguiu apoio ao Projeto.

Ainda em vida, no início dos anos 1970, Lorenzato participou de exposições internacionais, na (antiga) Checoslováquia e na França. Depois dessas participações, seu trabalho ficou por mais de 40 anos sendo exposto apenas no Brasil, com quase todas as exposições sendo em Minas Gerais. Os debates foram reavivados há cinco anos atrás, quando Lorenzato foi reinserido no panorama de discussão global, com exposições em Londres e em Nova York. O objetivo do projeto é que, através da catalogação, Lorenzato tenha uma repercussão digna ao tamanho de sua obra tanto no Brasil quando no exterior.

O modelo de catalogação surgiu ao se deparar com a impossibilidade de se fazer um catálogo raisonné — usualmente feito nessas iniciativas, buscando uma catalogação total das obras de determinado artista. Além disso, percebemos não só a inviabilidade, mas a obsolescência de uma abordagem historiográfica que busca a totalidade — uma resposta absoluta que parte de um modo de pensar eurocêntrico —, inaplicável em corpos de trabalhos de muitos artistas brasileiros, culturalmente híbridos, que não se adequam às categorizações estritas de uma história da arte europeia baseada em estilos e cronologias.

Como funciona essa proposta de colaboração coletiva?

Alinhados a esse modelo de catalogação proposto, optamos por uma participação ativa do público em geral. O Projeto faz um chamamento para que pessoas interessadas no trabalho de Lorenzato (sobretudo colecionadores, museus, galerias, pesquisadores e instituições culturais) possam submeter, através do preenchimento do formulário no site, obras de Lorenzato que gostariam que fossem catalogadas. O formulário pede fotos da obra, além de informações sobre ela (como data, dimensões, técnicas, etc) é sobre sua obtenção (histórico de procedência, ocorrência em bibliografia, exposições, etc).

As obras do artista estão dispersas pelo mundo, seu espólio não é representado de forma exclusiva e desconhecemos herdeiros diretos que poderiam ter o direito sobre as obras — fatores complexos que corroboram para o método de catalogação escolhido. As submissões feitas através do site do Projeto são avaliadas pelo Conselho Consultivo do projeto, composto por pesquisadores e galeristas especialistas no trabalho de Lorenzato, que indicam à Coordenação Geral do Projeto se a obra avaliada deve ou não ser incorporada à catalogação. São avaliados materiais documentais, principalmente, que podem ajudar a traçar uma linha narrativa que chegue até Lorenzato. Como formou escola, há muitas obras que foram feitas por outros artistas, mimetizando as técnicas, motivos e narrativas de Lorenzato. A análise atenta e especializada do Conselho busca identificar essas obras e evitar a sua catalogação, mantendo o que apresenta indícios sólidos de sua autoria. O Projeto não objetiva, entretanto, emitir laudos de autenticidade sobre as obras, e nem tem atribuição legal para tal.

E o seu interesse pela obra do Lorenzato e relação com o projeto, de onde parte?

Minhas pesquisas acadêmicas analisam objetos artísticos culturalmente híbridos e que não obedecem a métodos tradicionais da historiografia da arte, pedindo novas e complexas formas de lidar com essas obras na contemporaneidade. Isso acontece tanto no século 18 no barroco na Amazônia — tema do meu doutorado — quanto em Minas Gerais no século 20 — contexto de Lorenzato —, por exemplo. Lugares que fogem dos eixos usuais, com práticas e reverberações históricas que escapam à prática historiográfica hegemônica que entende o documento como instância única e absoluta da verdade. Percebeu-se que Lorenzato se aproxima muito a esses questionamentos e fui convidado para coordenar o Projeto, e um gosto pessoal pela obra se tornou objeto de pesquisa.

 


Mais informações sobre o projeto e como submeter uma obra

Nesse primeiro momento o Projeto está realizando uma chamada geral a colecionadores e pesquisadores. As submissões de obras podem ser feitas por qualquer pessoa e de forma gratuita a partir do formulário no site www.amadeolucianolorenzato.com. Caso não disponha de alguma informação solicitada no formulário, é possível indicar sem que isso invalide o envio. As obras serão paulatinamente incorporadas na plataforma e acrescidas de informações sobre suas participações em exposições, feiras e ocorrências em bibliografia. O Projeto garante, legal e formalmente, a confidencialidade de informações acerca das obras submetidas, caso desejado pelo remetente.

O Conselho Consultivo do Projeto é presidido pelo galerista Thiago Gomide, e tem como membros pesquisadores Rodrigo Moura – autor do recente livro Lorenzato, publicado pela editora Ubu, curador do El Museo del Barrio, em Nova York –, Sabrina Sedlmayer, Laymert Garcia dos Santos e Luisa Duarte; galeristas Vilma Eid, Pedro Mendes, Rodrigo Ratton e James Green; e Rui Terenzi Neuenschwander, colecionador de arte e primo de segundo grau de Amadeo Luciano Lorenzato. O Projeto é coordenado pelo pesquisador Mateus Nunes, doutor em História da Arte pela Universidade de Lisboa, professor do MASP e pesquisador integrado do Instituto de História da Arte da Universidade de Lisboa.


Imagem do topo: Lorenzato, Sem título, 1977. Foto Edouard Fraipont

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