Rose Afefé, vencedora do Prêmio FOCO 2023, nasceu em Varzedo, no interior da Bahia, em 1988. Sua pesquisa artística resgata memórias de infância, produzindo esculturas de paredes feitas com adobe (tijolo de barro cru) e cal, uma materialidade central no seu trabalho, mas também obras em outros suportes como a tela.
“Aos 28 anos, eu tive contato com o adobe. Eu percebi e entendi que minha casa também era feita deste tijolo. E isso me reconectou automaticamente com a minha infância. Esta reconexão me trouxe memórias que, de certa forma, eu tentava esconder: a minha origem, esta casa onde que eu cresci, sua estética e cores. A partir daí, começo a ressignificar o olhar para este lar”, explica.
A artista mora atualmente entre a Bahia, Rio de Janeiro e a Chapada Diamantina, onde constrói desde 2018 a Terra Afefé, uma micro cidade com construções em tamanho real. É um lugar que tem o desejo de criar frestas de liberdade, alegria, amor e afetos potencializadores, que se propõem a pensar formas de habitar em convivência com a terra, os saberes locais e a escuta sensível. Em conexão com as ecologias do mundo, busca-se pensar as relações entre arte e vida, natureza e cultura, a fim de construir um movimento de coexistência.
No estande do Prêmio Foco durante a ArtRio 2023, Rose Afefé apresentou um desdobramento deste trabalho. “Eu não sabia que minha casa era de terra, nem sabia o porquê da tinta do cal na parede. Eu lembro que eu não gostava, porque eu ficava desejando uma casa com parede branca. E aí nesse trabalho, que eu chamo parede de adobe sobre tela, trago uma referência que vai contra a essa busca por uma parede branca. E destaca o protagonismo dessas paredes coloridas de cal, que era estigmatizada como se fosse uma casa de pobre. E que hoje pra mim tem um valor pra além, um valor de origem e de memória”.
Sobre expor na ArtRio 2023, a artista afirma que potencializou seu trabalho. “É um tensionamento pra gente perceber o que dá valor a determinados objetos e obras. Então trazer uma parede que é sempre estigmatizada como uma parede de uma casa humilde pra um contexto de feira, da ArtRio, e colocar valor, e agregar valor a essa parede eu também agrego valor à minha memória”.
Como premiação do FOCO, Rose Afefé vai fazer a Residência JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). Neste período, a artista pretende se aprofundar na percepção dos habitantes do local sobre as suas casas. “Principalmente pessoas de condições sociais mais baixas que muitas vezes carregam algum tipo de estigmatização sobre o seu espaço, sobre o lugar que habita. E, de certa forma, produzir materiais que sejam nesse tensionamento pra quase reconfigurar essa história, para valorizar essas moradias”, completa.
Sobre a artista
Em 2018 começou a desenvolver a obra Terra Afefé, resgatando memórias da sua infância no interior da Bahia para o campo da arte e da vida. Desdobra seu trabalho em pinturas, desenhos, instalações e objetos. Foi indicada ao Prêmio PIPA 2022 e premiada no Salão de Artes Visuais da Bahia, entre as exposições destacam-se: 32º Programa de Exposições CCSP – 2022, Abre Alas – A Gentil Carioca, Artista de Artista – Galeria Luisa Strina, XII Bienal do Recôncavo, Esquizópolis – MAM Bahia. Rose também participou da residência artística Muros: Territórios compartilhados, em Fortaleza ‒ CE.