Gê Viana (Santa Luzia, MA, 1986) é uma artista maranhense de origem indígena, que recebeu o Prêmio FOCO 2023 junto comLaryssa Machada, Mônica Ventura, Rose Afefé, Uýra e Yhuri Cruz.
Com sua ancestralidade como fio condutor, ela desenvolve trabalhos investigando e problematizando questões relacionadas à ancestralidade afro-indígena e à normatividade de gênero e da sexualidade. Muitas de suas séries são criadas através da articulação de conjuntos de imagens que se apropria ou cria, a fim de apresentar reflexões sobre a construção da iconografia brasileira.
No estande do Prêmio FOCO da ArtRio 2023, ela apresentou quatro imagens da série Sapatona: “Despedida” (2020), “Que a gente não deixe de expressar nenhum sentimento nas ruas desse mundão” (2020), “Um louco dia. Encarar com carinho.” (2019), e “Ar” (2018), todas da coleção da artista.
“Eu quis colocar este trabalho da feira porque ele quase não foi exibido em lugares mais ‘oficiais’ da arte, só no mundo virtual. A série retrata os nossos corpos enquanto casais, sapatões que estão ali se relacionando. Muitas vezes não temos como demonstrar carinho em público. Eu sinto que há uma perda de afeto em diferentes lugares. Uma intimidação pelo olhar social de muitas pessoas”, conta.
“A série então permeia este ambiente de retratos antigos de fotógrafos nova-iorquinos e também africanos, como o Seydou Keïta. Eu trago esse universo colorido mesmo para mostrar a magnitude que é esse lugar, esse ambiente sapatão”.
“Historicamente a gente sabe que isso não é uma narrativa comum nos jornais, nas revistas, nas telenovelas. Não temos muitas narrativas felizes, interessantes sobre o mundo LGBTQIA+. É comum acontecer uma desgraça com o nosso corpo, com os nossos amores. Então, esse trabalho também é um pedido para que esses corpos, esses casais se nutram desse amor e que não haja nenhuma barreira contra isso. A gente quer amar, gozar, a gente quer viver feliz num lugar onde a gente queira estar”.
Como premiação do FOCO, Gê Viana vai participar da Residência São Jerônimo, no Pará. No período a artista quer trabalhar a inserção da pintura dentro de suas colagens, principalmente as manuais, em sacos de ráfia, um objeto que passa por esse processo de carregamento e descarregamento.
“As nossas costas indígenas, pretas, são demarcadas através desse objeto. Então, eu trago a ráfia com a pintura e com a colagem, não mais como uma prótese, como uma sustentação, mas também como a própria obra. Acho magnífico eu ter caído justamente em Belém, por ser uma cidade bem próxima da minha. Antes, Belém e Maranhão eram o único estado, né? Que era o Grão Pará, depois foi dividido por questões políticas, enfim. E o Maranhão tem muito de Belém e Belém tem muito do Maranhão nessas pequenas coisas que quando você transita”, completa.
Sobre a artista
Gê Viana nasceu em Santa Luzia, Maranhão, em 1986, mas vive e trabalha em São Luís. Formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a artista produz colagens e fotomontagens, analógicas e digitais, inspiradas em acontecimentos da vida familiar e do cotidiano, confrontando a cultura colonizadora hegemônica e os sistemas de arte e comunicação. A partir de um encontro com Lívia Aquino, pesquisadora do campo das artes visuais, Gê Viana passa a fazer uso da ‘imagem precária’ e dos meios de apropriação de fotos históricas. Gê Viana foi residente entre 2018 e 2019 da Bolsa Pampulha. Em 2020, foi vencedora do Prêmio PIPA, sendo membro do Comitê Indicação do prêmio no ano seguinte.