Quando o curador Bernardo Mosqueira entrou em contato com Cris Peres (João Pessoa, PB, 1988) dizendo que ela era uma das vencedoras do Prêmio FOCO, a artista não acreditou. Achou que era um trote, uma brincadeira e até demorou para responder. Depois, “quando a ficha caiu” ficou super feliz com a notícia.
Além de ter exposto na ArtRio 2024 em um estande oficial do FOCO ao lado dos outros quatro selecionados (Carchíris, Desali, Patfudyda e Xadalu Tupã Jekupé), no ano que vem Cris Peres participa da Residência Cabra, na Ilha do Ferro, Alagoas, como parte do prêmio.
Mestre em Processos Teóricos e Históricos em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba, Cris Peres atua como artista visual multimeios. Sua obra trabalha a relação crítica, sensível e decolonial entre objetos, corpos e espaços – reais ou fictícios.
“Eu comecei a desenvolver minha pesquisa em arte contemporânea com mais intenção durante a graduação em Artes Visuais na Universidade Federal da Paraíba e também durante o mestrado. Meu trabalho, está mais interessado em um assunto do que propriamente em uma linguagem. Eu exploro a relação dos binômios da presença e da ausência, ou do vazio e do cheio, e em contraponto à experiência dos materiais”, conta.
A artista articula diferentes linguagens como as gravuras-objetos, monotipias, performances, instalações, esculturas e traz também a apropriação e ressignificação de objetos ordinários, o manejo de materialidades brutas e a experiência vestigial do corpo.
No estande da ArtRio 2024, na Marina da Glória, Cris Peres exibiu a escultura “Levante Nº 1”, faz parte da pesquisa dos experimentos levantes. “A obra diz respeito à investigação simbólica do significado da cadeira, do ato de sentar, de descansar, quem tem o direito a essa relação, do conforto. E pensando na cadeira colonial de madeira para refletir sobre essa estrutura arraigada desde o período colonial imperial do Brasil até hoje, como isso se estende”.
Uma segunda obra, batizada de “Memória do Conforto”, também é um desdobramento dessa relação dos levantes, e é feita a partir de materiais como o cimento e a espuma. “Ela está ligada a uma pesquisa de gravuras do objeto, que são gravuras esculturas, muito dentro da relação da linguagem, onde eu exploro o material do concreto, que tem a ver também com a relação urbana, do descanso e da relação industrial das cidades”.
Outra parte da premiação do FOCO é uma residência artística na Cabra, em Maceió. “Em uma breve pesquisa sobre o local, eu identifiquei uma forte presença dos artesanatos. Então estou pensando em trazer os levantes, que seriam um mutirão dos levantes e fazer isso em comunidade, erguer algum tipo de objeto que tenha a ver com a relação colonial do espaço, e a gente tem que fazer esse diálogo junto com a comunidade”, completa.