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Pedro Motta inaugura “Jardim Impostor”

15/08/2019 - Por ArtRio

A Silvia Cintra + Box 4 apresenta “Jardim Impostor”, mostra individual de Pedro Motta. Em sua quarta exposição na galeria – Natureza Concreta (2008), Espaço Confinado (2013), Sobre a Natureza (2016) – Motta apresenta três séries que exploram o conceito de jardim: Jardim Oculto, Erva Daninha e Geração Espontânea. O título da exposição, Jardim Impostor, foi retirado de um dos textos do último livro do autor, Natureza das Coisas, editado pela Ubu Editora, em 2018.

Jardim Oculto (2019) está intrinsecamente relacionado às séries Sumidouro (2016) e Naufrágio Calado (2016-2019) que também abordam a temática de uma situação de falência, de ruína, de algo que se esvai. Neste trabalho, Pedro Motta potencializa seu imaginário para criar um jardim de esculturas, um jardim oculto em uma caverna calcária originária de uma série de processos geológicos de idades remotas. Mimetizadas no interior do Monumento Natural Estadual Peter Lund ­– Gruta de Maquiné encontram-se esculturas de profetas feitas por Aleijadinho, na virada do século XVIII para o XIX.

A caverna é uma ruína espontânea, esculpida pela água e pelo tempo e, por si só, uma escultura produzida pela ação da natureza. Já os profetas foram esculpidos em pedra-sabão pelas mãos do homem. Neste jardim de esculturas, cultivado, pensado, elaborado pelo artista, duas narrativas distintas, de diferentes tempos e materiais rochosos se entrelaçam. Trata-se de uma paisagem construída, alterada, recriada. Essa narrativa fantástica dá a ver um novo mundo a ser descoberto, uma nova cultura que, de certa forma, também se encontra em situação de falência, como se acumulasse ruínas do passado em tempo e espaço recriados.

Em Erva Daninha (2019), Pedro Motta apresenta uma coleção dinâmica de plantas coletadas de um jardim íntimo e afetivo. Esse herbário fantástico é composto de ervas daninhas, plantas que nascem espontaneamente, muitas vezes indesejáveis e que podem interferir negativamente no espaço estético do jardim, que tende a ser um lugar aprazível, de deleite. Trata-se da catalogação de plantas de lido cotidiano e com estruturas específicas de interesse do artista, fotografadas com uma carga estética pictórica. A metodologia consiste em observar o crescimento e o desenvolvimento das ervas no seu próprio jardim. Posteriormente, o artista colhe essas plantas e monta arranjos florais distintos que são, então, fotografados em estúdio. Em seguida, as plantas são expostas ao tempo, no período de um a três dias, até que percam sua vitalidade. Depois, são refotografadas nas mesmas posições e condições de luz. Por fim, as imagens das plantas vivas e das secas são dispostas em um mesmo espaço, de modo que levem o observador a um jogo de associações, em busca da imagem correspondente.

Já a série Geração Espontânea (2019) parte de uma experiência realizada anteriormente que resultou nos objetos – plantas artificiais, pintadas de preto e expostas em caixas pretas – de Flora Negra (2015-2016). No trabalho atual, Motta também rearranja plantas artificiais, porém verdes, como se estivessem vivas, dentro de espaços confinados, caixas pretas que simulam ambientes carbonizados. Nessas molduras veladas abrem-se frestas por onde escapam diferentes espécies de plantas, fugindo do aprisionamento. Simbolicamente, a força vital da natureza rompe o confinamento, restabelecendo a possibilidade de vida, porém, de forma irregular, improvável, instável. Assim como as ervas daninhas que nascem em qualquer lugar, sem planejamento, essas plantas perfuram as superfícies das molduras, criam fissuras e ganham vida de maneira espontânea e incontrolável. A série dá continuidade à discussão da relação entre as intervenções das ações do homem e da natureza, presente em grande parte da produção do artista.

A mostra vai até o dia 14 de setembro. A Galeria Silvia Cintra + Box 4 fica na Rua das Acácias 104 – Gávea. Funcionamento: de segunda a sexta das 10 às 19h, e sábado de 12h às 18h. Entrada gratuita.

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