

Uma importante mostra sobre a obra do artista visual português José Pedro Croft ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro a partir de quinta, 24 de setembro de 2025. A exposição “Reflexos, enclaves, desvios” reúne cerca de 170 obras, principalmente gravuras e desenhos, do renomado artista, sob curadoria de Luiz Camillo Osorio. Também serão apresentadas esculturas e instalações, que ampliarão o entendimento sobre o conjunto da obra do artista e sobre os temas que vem trabalhando ao longo de sua trajetória, como o corpo, a escala e a arquitetura.
Esta será uma oportunidade de o público ter contato com a obra de Croft, que já realizou exposições individuais em importantes instituições, como no Pavilhão Português na 57a Bienal de Veneza, na Itália (2017), na Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, em Portugal (2020), na Capela do Morumbi, em São Paulo (2015), no Paço Imperial (2015), MAM Rio (2006), entre muitas outras.
Na rotunda, haverá uma instalação inédita, criada especialmente para a mostra, na qual, através de um jogo de espelhos, o público verá partes do prédio histórico do CCBB RJ refletido, como um grande quebra-cabeça. Ao olhar de cima, será criado um espaço negativo, com a imagem do prédio invertida, dando a impressão de que a claraboia está no fundo de um grande poço com 40 metros de profundidade. A instalação vai ativar o ambiente, integrando o espaço e obra, assim como acontecerá em toda a exposição.
“José Pedro Croft é um dos principais artistas portugueses da geração que se formou logo após a Revolução dos Cravos (1974). Ou seja, teve sua trajetória artística toda vinculada aos ideais de liberdade, cosmopolitismo e experimentação. Trata-se de uma poética visual que se afirma no enfrentamento da própria materialidade das linguagens plásticas: a linha, o plano, a cor, o espaço. Sempre levando em conta sua expansão junto à arquitetura e ao corpo (inerente aos gestos do artista e à percepção do espectador)”, conta o curador Luiz Camillo Osorio.
A exposição é composta a partir da potência plástica das gravuras e dos desenhos que se articulam com a vertigem espacial das esculturas, com seus vazios e espelhos. As gravuras, suporte com o qual o artista trabalha desde a década de 1990, ocuparão a maior parte da exposição, incluindo obras em grandes escalas, com tamanhos que chegam a 140X243cm. “A gravura é um trabalho de grande ciência física e artesanal, com muito rigor e entrega. Não é algo secundário. Para mim, é uma âncora do meu trabalho. Há coisas que fiz em gravura, que vão me dar soluções para o meu trabalho em escultura”, afirma o artista. Diversas séries, de anos distintos, sendo muitas feitas sobre a mesma chapa de metal, aguçarão a percepção do público. “Ver não é reconhecer. As muitas variações no interior das séries gráficas conduzem o olhar para dentro do processo em que repetição e diferença se potencializam. A atenção para o detalhe é uma convocação política em uma época de dispersão interessada”, diz o curador.
A gravura é tão importante na obra do artista que muitos desenhos que serão apresentados na mostra foram feitos sobre as provas das gravuras. “Eu as uso como uma memória e desenho por cima com linhas de nanquim super finas, com 0,25 milímetros cada, criando volumes. Faço os desenhos à mão, trazendo esse mundo de imagens de pixels para a nossa realidade, que é física ainda. É uma maneira de resistir a velocidade de estarmos sempre ligados a um excesso de estímulos”, ressalta Croft.
Também farão parte da mostra seis esculturas, sendo quatro inéditas, criadas especialmente para a exposição. Todas feitas em ferro, espelho e vidro. “Há uma articulação interna entre o enfrentamento exaustivo da chapa de metal das gravuras com os deslocamentos ópticos e os desvios insinuantes de suas esculturas. O metal, o vidro, os espelhos, a linha, a cor, a memória gráfica, as sobreposições, a instabilidade; tudo isso reverbera entre as gravuras, os desenhos e as esculturas”, diz o curador.
A mostra vai até 17 de novembro de 2025. O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro fica na Rua Primeiro de Março, 66, Centro. Funcionamento: de quarta a segunda, das 9h às 20h. Fechado às terças-feiras. A entrada é gratuita.