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MAM Rio apresenta a coletiva “Formas das águas”

21/01/2025 - Por ArtRio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura neste sábado (25/01), a coletiva “Formas das águas”, coletiva que marca a abertura do ano expositivo da instituição. Com curadoria de Raquel Barreto e Pablo Lafuente, a mostra reúne mais de 40 obras em diferentes formatos, de 14 artistas de geografias e gerações distintas, que apresentam acontecimentos que tiveram lugar na Baía de Guanabara e definiram as histórias do museu e da cidade, ou oferecem experiências de imersão.

Para Raquel Barreto, curadora-chefe do museu, “em um tempo em que a consciência da emergência climática nos obriga a reconsiderar a relação com nosso entorno e seus processos, Formas das águas pensa histórica, poética e especulativamente a partir da Baía de Guanabara e suas águas – lugar em que estamos e que dá contorno ao que somos enquanto museu e cidade”.

Sem obedecer a uma cronologia histórica, os trabalhos reunidos abordam questões acerca da baía oceânica localizada no estado do Rio de Janeiro ou propõem reflexões sobre as águas, com base na liberdade e na metodologia de seus fluxos. A história desta baía é também a história de seus apagamentos: das comunidades e lugares que estiveram aqui em outros tempos, de tudo o que ocorreu nela e que hoje não lembramos. De acordo com a curadoria, “Formas das águas” é uma exposição que convoca o espectador a uma vivência reflexiva e imersiva.

A mostra inclui seis obras novas, comissionadas especialmente para a exposição, das artistas Emilia Estrada, Laís Amaral, Nadia Taquary, Renata Tupinambá, Sandra Cinto e Siwaju. Completam a seleção trabalhos de Agrade Camíz, Aline Motta, Amelia Toledo, Arthur Bispo do Rosario, Artur Barrio, Isa do Rosário, Jota Mombaça e Lia Mittarakis.

“Os trabalhos reunidos, sejam novos ou já existentes, ocupam o espaço do museu com uma cenografia incomum, livre de paredes, que esperamos consiga provocar experiências sensoriais e, ao mesmo tempo, reflexões sobre o lugar no qual vivemos e sobre como podemos intervir nele”, observa Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio.

O espaço expográfico é atravessado por um deque de madeira, que desenha um percurso pontuado por bancos em que está localizada a instalação sonora da artista fluminense Renata Tupinambá. Continuando seu trabalho com som e memória, Tupinambá criou uma obra sonora com fusões de dub que nos convida a reconectar com a Baía através de suas memórias, revelando uma história mais complexa do que conseguimos lembrar. Composta por cinco partes que podem ser ouvidas sem ordem preestabelecida, Tekobé nos fala a partir da água, da terra e do vento, mas também do sonho e da poesia, substâncias que, para a artista, são fundamentos da Baía e de suas experiências.

A mostra inclui artistas canônicos, como é o caso de Arthur Bispo do Rosario (1909-
1989), Amelia Toledo (1926-2017) ou Artur Barrio. De caráter marítimo, as obras de Bispo do Rosario exibidas na mostra compõem parte importante de sua produção, e se referem a um ambiente que ele conheceu com intimidade. Entre as poucas informações conhecidas sobre sua biografia, está o fato de que ingressou na escola de aprendizes de marinheiros em 1925, em Sergipe, aos 15 anos. Quando se mudou para o Rio, alistou-se na Marinha de Guerra e por lá permaneceu durante nove anos. O MAM Rio foi, em 1982, a primeira instituição de arte a mostrar as criações de Bispo, e sua participação na atual exposição inicia uma série de colaborações entre o MAM Rio e o Museu Bispo do Rosario, ao longo de 2025.

Em aço e verniz, a instalação imersiva Labirinto de azul (1993), da paulistana Toledo, utiliza formas curvas e tons de azul para conduzir movimentos em uma dinâmica de imersão, na qual o corpo do visitante parece fazer parte dos fluxos das águas. Já os Dragões cantores, outra obra apresentada, permitem explorar o som das coisas que, frequentemente, ouvimos sem perceber.

Artur Barrio e a física enquanto arte (2018-2024), do artista português que começou a criar sua obra nos anos 1960, já morando no Brasil, é um exercício de experimentação sobre as propriedades da água e os processos de degradação dos quais é objeto. Desenvolvida a partir de uma experiência contínua de estar na água e viver no mar, a instalação inclui imagens e objetos que remetem à realidade da Baía de Guanabara e reconstroem parte de seus fluxos que, a princípio podem parecer abstratos, mas em última análise mostram as possibilidades de regeneração. A obra continua o trabalho de décadas de Barrio com sistemas e processos, e com as violências presentes em suas estruturas.

Com sua série Aqui é mar, a artista e artesã fluminense Laís Amaral, percorre a memória das águas que ocuparam o local onde o MAM Rio foi construído, após um dos muito aterros realizados na Baía de Guanabara. A artista investiga os impactos do colapso ambiental e seus desdobramentos, que produzem cenários de desertificação.

Dança com a morte no Atlântico (2014-2023), bordado de Isa do Rosário, simboliza a vida e a morte no fundo do mar, um memorial para todos aqueles que perderam suas vidas durante o tráfico transatlântico entre os séculos XVI e XIX. Durante esse período, o Rio de Janeiro e suas águas foram o maior porto de entrada de pessoas escravizadas no continente americano.

ATMOS ISINMI: em memória de João Cândido (2025), obra da escultora Siwaju, é um
monumento ao trabalho de João Cândido Felisberto (1880-1969), popularmente conhecido como Almirante Negro, que liderou em 1910 a Revolta da Chibata e foi expulso da Marinha do Brasil. A obra é apresentada na área externa do museu, em direção à Baía na qual João Cândido virou símbolo da luta pela igualdade.

Uma celebração mítica e religiosa das águas está presente em Omi Òkun Ayérayé (2024-
2025), trabalho da artista baiana Nádia Taquary, que traz para a exposição a figura de
Iemanjá, a deidade feminina ligada ao mar no panteão das religiões de matriz africana,
identificada como a grande “mãe das águas”. A obra versa sobre o sagrado, o feminino e o
ancestral.

Na série Alligator (jacaré em inglês), a artista carioca Agrade Camíz insere a dimensão do
conflito social das praias do Rio. Popularmente conhecido como Alligator, o ônibus 474 liga a comunidade do Jacarezinho, na zona norte, ao Jardim de Alah, limite entre os bairros mais afluentes da zona sul: Ipanema e Leblon. Durante o verão, nos fins de semana, quando é utilizado por jovens para chegar à praia, materializa a tensão social, racial e de classe da cidade, evidenciando como o acesso ao lazer também é marcado pela
desigualdade. A artista utiliza, como base de algumas das pinturas, janelas de ônibus iguais aos que realizam o percurso.

Sob uma perspectiva mais idílica, a artista autodidata Lia Mittarakis concebeu suas obras como quem olha para o Rio de Janeiro como espectador apaixonado, compondo um cenário que converteu a cidade a uma escala reduzida. As águas da Baía de Guanabara aparecem com frequência em seu trabalho, tornando-se quase uma personagem, em torno da qual se articulam construções e meios de transporte, pessoas e outros seres.

A exposição inclui trabalhos comissionados em grande escala, como os da paulista Sandra Cinto e da argentina Emilia Estrada. Mar aberto (2025), a obra de Cinto, responde à escala da arquitetura do Salão Monumental do museu, propondo para os visitantes um corte no espaço expositivo, que abre uma janela à paisagem da baía e uma experiência imersiva de caráter onírico. Já Estrada apresenta com Louvor à sombra (2025) um mapeamento da superfície lunar em sua totalidade, pronta para a extração. As montanhas, os mares e o que eles carregam, como potencial objeto de valor, seguindo os padrões aperfeiçoados na Terra até seu atual estado de exaustão.

Completam a mostra duas salas de vídeo com obras das artistas Aline Motta e Jota Mombaça. Em A água é uma máquina do tempo (2023), Motta revisita arquivos históricos memórias familiares, sobretudo femininas, relacionados ao Rio de Janeiro e à Baía de Guanabara, para construir, por meio de um processo especulativo, um trabalho que entrelaça texto e imagem. Em pauta a Kalunga, uma linha tênue de água que divide o mundo dos vivos e a terra dos ancestrais, de acordo com a perspectiva das cosmologias centro-africanas, especificamente do Congo-Angola.

Já o vídeo Waterwill (2021-2022), de Mombaça, acompanha uma série de ações nas quais tecidos de grande tamanho são submersos nas águas de diversos locais, desenvolvendo uma arqueologia submarina de cada um desses lugares. As imagens destes tecidos aparecem acompanhadas por palavras e sons que nos falam dos movimentos de pessoas atravessando geografias tanto políticas como sentimentais.

O MAM Rio fica na Av. Infante Dom Henrique 85, Aterro do Flamengo. Funcionamento:  quartas, quintas, sextas, sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Aos domingos, das 10h às 11h, visitação exclusiva para pessoas com deficiência intelectual.  Ingressos: contribuição sugerida, com opção de acesso gratuito. Valores sugeridos: adultos: R$ 20,
crianças, estudantes e +60: R$ 10.

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