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Luisa Strina celebra 50 anos da galeria com livro e exposição

17/12/2024 - Por ArtRio

No final de 2024, Luisa Strina, um dos pilares da arte contemporânea no Brasil e no mundo, celebra meio século de existência, com centenas de exposições apresentadas. Fundada em 17 de dezembro de 1974, a galeria atravessou décadas de transformações políticas, sociais e culturais, e, ao longo dos anos, desempenhou um papel crucial na promoção de artistas brasileiros e latino-americanos, consolidando-se como inovadora no cenário global da arte.

Para comemorar o cinquentenário da sua galeria, parte da coleção privada de Luisa Strina estará aberta à visitação pública. Amostra, um recorte da coleção Luisa Strina, apresentará alguns destaques, incluindo nomes como Cildo Meireles, Fernanda Gomes, Carl Andre, Jimmie Durham, Francis Alÿs, Mira Schendel, Leonilson, dentre outros. A exposição tem curadoria assinada pela própria galerista/colecionadora, pela diretora artística da galeria Kiki Mazzucchelli e pelo curador/galerista Ricardo Sardenberg.

Na ocasião, será lançado também Luisa Strina 50, livro comemorativo do aniversário de 50 anos da galeria. A publicação, organizada por Kiki Mazzucchelli e Oliver Basciano, com coordenação editorial da Act. Editora, reúne textos inéditos e documentação de cinco décadas da galeria de arte mais longeva do Brasil.

Muito antes de ser galerista, Luisa Strina já colecionava arte. Aos 17 anos, ela adquiriu sua primeira obra, uma gravura de 1948 do artista Lívio Abramo, arrematada num leilão. Logo após a compra, foi informada que teria pago um valor muito alto pelo trabalho. Não bastasse, o profissional a quem confiou a emolduração da gravura acabou danificando a obra, provocando uma pequena rasura no papel. Ela conta que essa primeira experiência poderia tê-la afastado do mercado de arte para sempre.

Porém, mais tarde, Strina daria início a sua vocação como galerista, vindo a contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento do mercado de arte no Brasil. Nesses anos todos, sua coleção cresceu e hoje conta com alguns dos artistas mais representativos da arte brasileira e internacional das últimas décadas.

História da galeria

A trajetória começou em um pequeno espaço sem telefone e com poucas expectativas de sucesso, mas com um compromisso firme com a arte conceitual. “Deu certo, porque naquela época o ‘mundo da arte’ era só um pequeno grupo de amigos que faziam exposições no espaço”, relembra a fundadora. Desde o início, apostou em artistas que não se encaixavam nos moldes tradicionais, promovendo nomes que se tornariam ícones da arte contemporânea brasileira, como Antonio Dias, Cildo Meireles, Fernanda Gomes e Tunga.

A fundação aconteceu em um momento particularmente conturbado para o Brasil, sob o regime da ditadura militar (1964-1985). Durante esse período de repressão política e censura, a expressão artística enfrentava restrições severas. No entanto, Strina se destacou por sua audácia e compromisso com uma vertente artística que questionava as normas estabelecidas e desafiava o status quo.

“Nos últimos anos da ditadura, o Brasil parecia isolado do resto do mundo: a galeria foi uma das primeiras a representar artistas, era raro ver museus mostrando estrangeiros, e apareciam poucos colecionadores internacionais”, relembra. Esse isolamento não impediu que abraçasse e promovesse a arte conceitual, que na sua essência era um meio de crítica e reflexão sobre a realidade social e política.

Arte conceitual como forma de resistência

A escolha de Luisa por arte conceitual não foi apenas uma questão de preferência estética, mas uma forma de resistência e afirmação. Artistas como Cildo Meireles, Antoni Muntadas e Tunga, foram inicialmente apoiados pela galeria. Suas práticas artísticas frequentemente abordavam temas como censura, controle social e identidade nacional, proporcionando uma forma sutil, mas poderosa, de resistência ao regime opressor.

Além disso, foi um espaço resistente ao promover exposições que desafiavam normas e exploravam novas formas de expressão, que ofereceu um refúgio para a liberdade criativa durante um período em que muitas vozes artísticas foram silenciadas.

Pioneirismo e expansão internacional

Com a democratização do Brasil e a abertura política que se seguiu ao fim da ditadura, Luisa Strina expandiu suas atividades e consolidou sua posição como um centro internacional de arte. Em 1992, fez história ao se tornar a primeira da América Latina a participar da Art Basel, uma das feiras de arte mais prestigiadas do mundo. Este marco não apenas a elevou no cenário global, mas também abriu portas para outros brasileiros e latino-americanos no mercado internacional.

Nos anos seguintes, continuou a se destacar por sua capacidade de identificar e apoiar talentos inovadores, expandindo seu portfólio, tanto no Brasil quanto na América Latina. Com a inclusão de artistas como Alexandre da Cunha, Marcius Galan e Marepe, a galeria reforçou seu compromisso com a diversidade e a inovação na arte contemporânea. Esses novos nomes, ao lado dos pioneiros, formaram a espinha dorsal, criando uma conexão rica entre gerações.

A galeria também se destacou ao trazer para seu portfólio artistas latino-americanos importantes como Jorge Macchi, Juan Araujo e Pedro Reyes, fortalecendo o diálogo entre a arte brasileira e a produção artística do restante do continente. No mesmo período, o espaço passou a representar artistas como Laura Lima, Leonor Antunes e Renata Lucas, contribuindo para a visibilidade de artistas mulheres no circuito internacional.

Marcos importantes e exposições memoráveis

Ao longo de sua história, Luisa Strina foi palco de algumas das exposições mais importantes do cenário artístico brasileiro. Entre os destaques, estão mostras individuais de Cildo Meireles, que ajudaram a consolidar sua carreira internacional, além de exposições marcantes de artistas como Fernanda Gomes e Marepe. Também se tornou um espaço de experimentação e inovação, recebendo obras que desafiavam o espaço físico e o status quo, como as de Renata Lucas, que chegou a alterar a própria arquitetura do prédio para suas instalações.

Outro momento importante na história foi a introdução de Alfredo Jaar, artista chileno mundialmente renomado, e da artista italiana-brasileira Anna Maria Maiolino, cujas obras impactaram profundamente o cenário artístico contemporâneo. A chegada desses artistas reforçou o papel da galeria como um ponto de convergência de vozes latino-americanas no cenário global.

Nos últimos anos, também tem dado espaço para uma nova geração de artistas, como Brisa Noronha, Bruno Baptistelli, Luísa Matsushita e Panmela Castro, continuando sua missão de descobrir e promover talentos. Essa aposta nas novas gerações demonstra a capacidade de se reinventar, sempre mantendo a relevância e compromisso com a inovação.

Legado de inovação e compromisso com a arte

A trajetória de Luisa Strina é marcada por um compromisso com a arte e os artistas que representa. Ao longo dos anos, a galeria não apenas navegou pelas mudanças do mercado, mas também ajudou a moldá-las. Ao lembrar desse legado, a galerista destaca que o seu sucesso nunca foi individual, mas um esforço coletivo. “A galeria nasceu de amigos, e seu sucesso nunca foi de autoria única. Sempre foi um esforço coletivo de funcionários antigos e presentes, curadores convidados, patronos e apoiadores, e, claro, das centenas de artistas que tiveram suas obras nas paredes, no chão, no exterior da galeria.”

Com mais de 100 exposições realizadas ao longo de cinco décadas, é uma testemunha viva do desenvolvimento da arte brasileira e internacional. Cada mostra trouxe novas reflexões e desafios, ampliando o entendimento sobre a produção artística contemporânea e reafirmando a galeria como um espaço de diálogo e inovação. A história da galeria é também a história da arte brasileira, que encontrou nas paredes da Luisa Strina um palco de projeção global.

O futuro: inovação e compromisso contínuo

Luisa Strina segue como um espaço vital para a arte contemporânea, com um olhar voltado para o futuro. Continuando a promover novos talentos, mantém o compromisso com a inovação e o apoio à produção artística de qualidade, sempre atenta ao papel transformador da arte.

Com sua história profundamente conectada às mudanças culturais e sociais do Brasil, se firma não apenas como uma das mais importantes galerias de arte do país, mas como um agente fundamental na construção de pontes entre a arte local e o cenário global. Reafirma seu lugar como um dos principais centros de difusão da arte contemporânea, mantendo vivo o espírito visionário que marcou sua fundação.

Sobre o livro Luisa Strina 50

Com ensaios de curadores e jornalistas sobre o cinquentenário da galeria, Luisa Strina 50, organizada por Kiki Mazzucchelli e Oliver Basciano, com coordenação editorial da Act. Editora, comemora uma trajetória que se confunde com a história da arte contemporânea brasileira. O livro destaca também 100 exposições memoráveis que aconteceram em seu espaço, incluindo mostras de artistas como Alfredo Jaar, Anna Maria Maiolino, Antoni Muntadas, Cildo Meireles, Cinthia Marcelle, Fernanda Gomes, Magdalena Jitrik, Olafur Eliasson, Panmela Castro, Tunga, entre outros.

A publicação traz ainda duas entrevistas com Luisa Strina, e uma rica iconografia com fotos, depoimentos e documentos. Uma leitura indispensável para quem deseja conhecer o desenvolvimento da arte no Brasil e o impacto global da galeria ao longo desses 50 anos.

Exposição Amostra
Curadoria: Luisa Strina, Kiki Mazzucchelli e Ricardo Sardenberg
Abertura: 17 de dezembro de 2024, das 18h às 21h
Visitação: até 18 de janeiro de 2025
Endereço: Rua Padre João Manuel, 755 – Cerqueira César, São Paulo – SP
Horários: Segunda-feira à sexta-feira, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 17h

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