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Lucimélia Romão conta como foi a residência no Chão Slz | Prêmio FOCO 2022

23/05/2023 - Por ArtRio

Em 2022, após um intervalo de três anos, o Prêmio FOCO ArtRio, iniciado em 2013, voltou maior do que nunca. Contando com a apresentação do Instituto Cultural Vale, o projeto selecionou 6 artistas com até 15 anos de carreira para desenvolverem seus projetos em uma residência artística. Lucimélia Romão (1988, SP), uma das ganhadoras, retornou recentemente de sua residência em São Luis, onde passou 4 semanas na Residência Chão Slz.

 

Como foi a experiência na Chão Slz? Como foi a dinâmica e rotina de trocas na residência?

A residência foi simplesmente incrível! Durante a primeira semana o Thadeu Macedo, coordenador da Residência Chão, me apresentou vários lugares da cidade, pontos turísticos, o centro histórico, a praia, ateliês de artistas, exposições e etc. Na segunda semana fomos ao arquivo público, na biblioteca municipal e na exposição do Zimar. No arquivo público eu encontrei um historiador, que escreveu um livro sobre um crime de feminicídio que chocou o Maranhão, e ele além de me dar o livro ainda me cedeu uma entrevista. Foi meu primeiro presente, a partir do diálogo com ele criei meu primeiro trabalho que está em processo de construção, é uma bandeira do Brasil  feita com a frase CRIME DE HONRA. Esse trabalho será bordado por mim e terá uma barra de crochê feita pela minha mãe.

A partir da exposição do Zilmar e sobre o que ele fala em um vídeo da exposição onde ele narra que tem medo da morte e por isso ele faz Cazumbás no intuito de espantar a morte, e também de entrevistas com algumas mulheres de Alcântara onde estive na terceira semana de residência eu crio duas séries de fotoperformances. As imagens são registradas por Dinho Araújo. A primeira série é um memorial para as vítimas de feminicídio que se chama Mortes Anunciadas e o segundo é Mulheres do Lar – Cazumbá para Iansã, uma performance ritual para suspender o feminicídio.

E a relação com a cidade ou espaço no entorno?

A relação com a cidade e o espaço no entorno foi muito rica pois São Luis e Alcântara respiram arte. Então cada lugar que eu passava, ruas que pareciam galerias de arte alimentavam a minha criação. Acompanhar os ensaios do boi e entender a importância do encantado com Gê Viana contribuiu muito para que eu pensasse essa performance ritual para a suspensão das mortes de mulheres no Brasil e no mundo.

Na ArtRio 2022 você apresentou a performance “MULHERES DO LAR – Mortes Anunciadas” e a obra “Para Estancar o Sangue” (2021), ambas em torno da urgência da violência doméstica. Durante a residência, você deu continuidade a essa pesquisa?

Sim, essa pesquisa começou em São Luís no arquivo público e finalizou em Alcântara, nas entrevistas com três mulheres que foram responsáveis por acompanhar e ajudar a resolver um caso de feminicídio na cidade, não permitindo que o assassino saísse impune.

O seu foco também seguiu em explorar experimentações nas artes visuais e cênicas? Como foi isso?

Sim, quando partir para a residência eu já tinha o interesse em criar uma série de fotoperformances, desse modo o figurino da performance “MULHERES DO LAR – Mortes Anunciadas” viajou comigo para a residência junto dos sapatos das bonecas utilizados na apresentação do Prêmio FOCO. Quando cheguei em Alcântara o cenário de ruínas junto da história que as mulheres me contaram sobre o feminicídio confluíram numa força para que eu fizesse o adereço cênico da primeira série, foi construído uma máscara de sapatinhos vermelhos para o memorial onde eu performo a tentativa de escapar do ciclo da violência que muitas mulheres percorrem. Já no caso da segunda série eu faço uma performance ritual com uma cazumbá para espantar a morte nas ruínas de um convento, com vistas pro mar portando duas espadas de Santa Bárbara. Ambas as ações foram registradas pelo artista Dinho Araújo. A bandeira Crime de Honra se configurou como uma instalação para demarcar esse ciclo infinito que é a violência contra mulheres. Acredito que muito dessa transdisciplinaridade que trabalho nas obras com as artes visuais e cênicas tem muito haver também com a criação da mulher onde ela geralmente é ensinada que precisa dar conta de tudo: casa, marido, filhos e trabalho. No meu caso eu consigo subverter esse peso em poéticas e subjetividades.

Qual sua perspectiva e projetos para o ano de 2023 e 2024?

Bom, nesse ano de 2023 e 2024 eu tenho como perspectiva circular com a exposição que derivou a partir dos trabalhos criados na residência. A exposição leva o nome de “Como Se O Corpo Fosse Documento” e está prevista para acontecer no segundo semestre deste ano. Também no segundo semestre deste ano estreia o espetáculo da minha primeira dramaturgia Os Cachinhos De Aduke pela 9ª Edição do Prêmio de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP. Em 2024 quero continuar com a circulação desses trabalhos e estar produzindo aquarelas com artes têxteis que tem sido uma pesquisa que estou me aventurando agora.


Sobre Lucimélia Romão (1988, SP)

As investigações de Lucimélia Romão (1988, SP) transitam entre as artes visuais e cênicas, linguagens que a artista desdobra e busca amalgamar para dar conta da urgência de pautar a vida – especialmente a vida daqueles cujo os direitos básicos são negados, uma vez que as leis brasileiras têm sido criadas, desde o Brasil colônia, para reiterar essa negação. As ações artísticas propostas por Romão são, portanto, gritos cênicos para a suspensão da barbárie. As obras “MULHERES DO LAR – Mortes Anunciadas” (2022) e “Para Estancar o Sangue” (2021), aqui apresentadas, nascem do desejo urgente de Romão em abordar a violência que o estado hegemônico opera, diariamente, sobre os corpos dissidentes.

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