Um dos mais celebrados artistas de sua geração, reconhecido por sua sólida pesquisa sobre a presença negra e seu protagonismo na história do Brasil, o artista paulistano Jaime Lauriano (1985) faz sua primeira individual em solo norte-americano, na Nara Roesler, em Nova York.
Como é usual em sua trajetória, ele nomeou a exposição – que tem curadoria de Igor Simões – com o verso de uma música: “Por que vocês não sabem do lixo ocidental?”, que abre a canção “Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant), gravada por Milton Nascimento em 1970.
São aproximadamente dez trabalhos, grande parte criados em 2023, que estão na mostra em cartaz até 9 de março de 2024, no número 511 da West 21st Street, em que Jaime Lauriano subverte mapas e pinturas acadêmicas, como “Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500” (1900), de Oscar Pereira da Silva, rebatizada pelo artista de “Invasão”, em que retira os personagens e acrescenta elementos de resistência: incêndio das caravelas, adesivos populares, como o canarinho pistola, e o símbolo de Exu, o orixá da comunicação e que abre caminhos.
Sobre a moldura do quadro, Jaime Lauriano equilibra um exército de miniaturas de soldados de infantaria e cavalaria que confronta outro grupo de miniaturas, principalmente de Zé Pelintra, uma das entidades mais populares das religiões de matriz africana. Igor Simões afirma: “Essa exposição existe exatamente porque vocês não querem saber do lixo que foi, simultaneamente, rastro e lastro da experiência de um continente fundado a partir da colonização”.
Sobre o artista
Por meio de vídeos, instalações, objetos e textos, Jaime Lauriano (n. 1985, São Paulo, Brasil) revisita os símbolos, imagens e mitos formadores do imaginário da sociedade brasileira, tensionando-os a partir de proposições críticas capazes de revelar como as estruturas coloniais do passado reverberam na necropolítica contemporânea.
Lauriano aborda as formas de violência cotidiana que perpassam a história brasileira desde sua invasão pelos portugueses, centrando-se, com especial perversidade, em indivíduos racializados. Nesse sentido, o artista se debruça sobre os traumas históricos de nossa cultura, compreendendo suas complexidades a partir do agenciamento de imagens e discursos provenientes das mais diversas fontes, sejam aquelas tidas como oficiais, como veículos de comunicação e propagandas de Estado; como as extra oficiais, como vídeos de linchamentos compartilhados pela internet.
Sua crítica se estende da macropolítica das esferas do poder oficial à micropolítica. Lauriano pensa o trauma não só em sua dimensão temporal, mas também espacial, valendo-se de formas de mapeamento a fim de questionar as disputas e construções territoriais coloniais. Outra dimensão de seu trabalho é a
conexão com religiões ancestrais de matriz africana. O artista emprega signos e símbolos desses rituais, como a pemba branca, utilizada na feitura de seus mapas, compreendendo como a esfera religiosa foi fundamental para a resistência dos escravizados, servindo como espaço de manutenção de suas relações com o território ancestral.
Jaime Lauriano vive e trabalha em São Paulo e jfoi um dos vencedores do Prêmio FOCO da ArtRio. Suas exposições individuais incluem: Aqui é o Fim do Mundo, no Museu de Arte do Rio (MAR) (2023), no Rio de Janeiro, Brasil; Paraíso da miragem, em colaboração com silêncio coletivo, na KubikGallery (2022), em Porto, Portugal; Marcas, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) (2018), em Recife, Brasil; Brinquedo de furar moletom, no Museu de Arte
Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói) (2018), em Niterói, Brasil; Nessa terra, em se plantando, tudo dá, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ) (2015), no Rio de Janeiro, Brasil; e Impedimento, no Centro Cultural São Paulo (CCSP) (2014), em São Paulo, Brasil. Lauriano apresentou trabalhos na El Dorado: Mythsof Gold, no Americas Society, Nova York, EUA (2023), no 37º Panorama da Arte Brasileira, São Paulo, Brasil (2022); e na 11a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2018). Participação em exposições coletivas incluem: Histórias brasileiras, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) (2022), em São Paulo, Brasil; Social Fabric: ArtandActivism in ContemporaryBrazil, no Visual Arts Center da University of Texas, em Austin, EUA (2022); Afro-Atlantic Histories, no NationalGalleryofArt (2022), em Washington DC, Estados Unidos e no Museumof Fine Arts (MFAH) (2022), em Houston, Estados Unidos; Quem não luta tá morto – arte democracia utopia, no Museu de Arte do Rio (MAR) (2018), no Rio de Janeiro, Brasil; Levantes, no SESC Pinheiros (2017), em São Paulo, Brasil; Territórios: Artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015), em São Paulo, Brasil.
Seus trabalhos podem ser encontrados em coleções institucionais, tais como: Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Recife, Brasil; Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte de São
Paulo (MASP), São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; e SchoepflinStiftung, Lörrach, Alemanha.