ArtRio 15a. edição | 10 a 14 de SETEMBRO de 2025 | MARINA DA GLÓRIA ArtRio 15a. edição | 10 a 14 de SETEMBRO de 2025 | MARINA DA GLÓRIA

Encontro/Confronto – Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro

19/03/2025 - Por ArtRio

A Pinakotheke São Paulo inaugura no sábado (22/03), às 11h, a exposição “Encontro/Confronto – Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro”, com 37 obras dos dois artistas que participaram ativamente dos movimentos neoconcreto e concreto, respectivamente, que defendiam diferentes caminhos da arte nos anos 1950 e 1960.

Idealizada por Max Perlingeiro, que divide a curadoria com o artista Luciano Figueiredo, um dos grandes especialistas na obra de Hélio Oiticica, e Paulo Venancio Filho, pesquisador dos dois movimentos, a exposição propõe uma reflexão, já distanciada pelo tempo, dos encontros e dos confrontos entre esses dois artistas. A mostra celebra ainda o centenário de nascimento de Waldemar Cordeiro.

CATÁLOGO: TEXTOS DOS ARTISTAS, DE CRÍTICOS E DOS MANIFESTOS
Acompanha a exposição um livro publicado pelas Edições Pinakotheke, formato de 21 x 27cm, com imagens das obras expostas, fac-símiles de documentos e textos históricos, e de correspondências endereçadas a Hélio Oiticica, textos de Max Perlingeiro, Luciano Figueiredo, Paulo Venancio Filho, Analivia Cordeiro, e da única fotografia conhecida de Hélio e Waldemar juntos, sentados lado a lado em um almoço no MAM Rio.

Para oferecer ao público interessado as visões conflitantes e os pontos de contato entre os dois grandes grupos de artistas geométricos, a publicação conterá vários textos de Hélio Oiticica e de Waldemar Cordeiro, os dois manifestos – Manifesto neoconcreto (1959) e Manifesto Ruptura (1952) – e uma expressiva fortuna crítica, com ensaios de Fernando Cocchiarale, Frederico de Moraes, Guy Brett (1942- 2021), Aracy Amaral, Augusto de Campos e Ferreira Gullar (1930-2016).

A coreógrafa e artista Analivia Cordeiro, filha de Waldemar Cordeiro e da geógrafa e pianista Helena Kohn Cordeiro (1928-1994), foi uma grande entusiasta da ideia da mostra, e um texto seu integra o catálogo que acompanha a exposição, que celebra ainda o centenário de nascimento do artista.

ORIGEM DE ENCONTROS/CONFRONTOS

Há dez anos, ao preparar na Pinakotheke do Rio de Janeiro o projeto “Opinião 65 – 50 anos”, que relembrava a histórica exposição feita pela crítica de arte Ceres Franco e o marchand Jean Boghici, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em agosto de 1965, Max Perlingeiro observou “pela primeira vez, que os dois artistas, Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro, tinham muitas proposições em comum”. “Os dois pensadores eram ativistas. Cordeiro lidera o Grupo Ruptura, os concretos, em São Paulo; e Hélio era do Grupo Frente, os neoconcretos, no Rio de Janeiro. Grandes divergências intelectuais, apaziguadas tempos depois. Os dois artistas, apesar de se envolveram em polêmicas, não se confrontraram diretamente e sempre mantiveram um respeito mútuo”, afirma.

Em 1965, Hélio Oiticica levou ao MAM integrantes da escola de samba Mangueira, usando seus “Parangolés”, com capas, estandartes e tendas. Os dirigentes do Museu expulsaram o artista e seus companheiros, que seguiram então para os jardins, acompanhados de todos os presentes. Hélio Oiticica “gritava para todo mundo ouvir: ‘É isto mesmo, crioulo não entra no MAM, isto é racismo’”, relatou mais tarde o artista Rubens Gerchman (1942-2008).

Em São Paulo, Waldemar Cordeiro apresentou os seus “popcretos”, na galeria Atrium em São Paulo, em 1964, num grande happening, com ruídos, instrumentos percussivos, leitura de textos aleatórios, “enfim um caos”, conta Max. “Cacos de vidro, de espelho, pedaços de pano, e como escreveu Augusto de Campos ‘utilitários desprezíveis, pedaços de móveis e sucatas de automóveis comandavam a nova safra de objetos-dejetos entre os quais pontificava um enxadão ofensivo, cravado no corpo convexo de um quadro-escultura vermelho em pistola-pintura — popcreto para um popcrítico’”.

Outro paralelismo nas pesquisas dos dois artistas são os “labirintos”. Em 1961, Hélio  iticica fez a maquete de um jardim, com cinco penetráveis, o poema enterrado de Ferreira Gullar e o Teatro Integral de Reinaldo Jardim. “Nos primeiros penetráveis o caráter de labirinto aparece claro: a cor se desenvolve numa estrutura polimorfa de placas que se sucedem no espaço e no tempo formando labirintos.

Já nos posteriores o caráter móvel é que dá o sentido labiríntico do penetrável: são os de placas rodantes. Aqui o labirinto como labirinto mesmo já não aparece, é apenas virtual”, detalhou Hélio no projeto. “Cordeiro também cria o seu labirinto”, segue Max. “Entre os diversos projetos paisagísticos do artista, destaca-se o Parque Infantil do Clube Esperia em São Paulo, de 1963, onde na parte central há o que Cordeiro chama de labirinto, um brinquedo de grandes proporções e composições geométricas. Com grandes janelas proporcionando a passagem das crianças pelos buracos, foi construído em concreto e pintado com cores vivas. Logo abaixo dos volumes, há figuras pintadas que simulam sombras. Segundo Cordeiro, ‘as sombras naturais, em contínua transformação, se compõem com as artificiais, proporcionando uma representação cinética’. Este percurso propicia ao usuário criar seu próprio caminho”.

Em 1966, em uma carta timbrada da Prefeitura de São Paulo, Waldemar Cordeiro convida Hélio Oiticica para participar do seminário e exposição “Propostas 66”, que pretendia “modestamente contribuir para uma visão global e humanística da cultura de vanguarda no Brasil”. Por sua vez, os popcretos de Waldemar Cordeiro “chamam a atenção de Hélio”, conta Max. “Ele os inclui no esquema da ‘Nova objetividade’, uma exposição organizada por Oiticica para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1967, um panorama geral da arte brasileira”.  O diretor da Pinakotheke aponta ainda outro ponto de encontro entre os dois artistas: as bandeiras “Viva Maria” (1965), de Cordeiro, e “Seja marginal, seja herói” (1966-1967), de Hélio.

“Diante de tantas evidências, passei a pesquisar em todos os arquivos disponíveis uma aproximação maior entre os dois artistas. Tinha na mão somente uma imagem histórica, do fotógrafo Fernando Goldgaber, o único que registrou esse instante, de Hélio e Cordeiro em um almoço realizado no MAM Rio de Janeiro, por ocasião da exposição em 1965. Aliás, uma rara imagem de um Cordeiro sorridente, ao lado de Hélio, num momento de total descontração”, diz Max. “Durante anos, conversei com Analivia Cordeiro, principal incentivadora da minha teoria, até então muito incipiente. Cordeiro e Hélio, segundo Analivia Cordeiro, se falavam por telefone com frequência”.

“Há dois anos, já com muito material em arquivo, convidei Luciano Figueiredo, que além de grande artista, é um profundo estudioso da vida e da obra de Hélio Oiticica, para me ajudar a desenvolver esta teoria com seu conhecimento. Também convidei Paulo Venancio Filho, que foi o primeiro a compreender e orientar os pontos de convergência, já muito evidentes, neste ‘não diálogo’ entre estes dois grandes artistas. Assim, nasceu Encontro-confronto: exposição e publicação que a Pinakotheke tem o orgulho de apresentar neste ano de 2025 da comemoração do centenário de nascimento de Waldemar Cordeiro”, celebra Max Perlingeiro.

A exposição “Encontro/Confronto – Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro” vai até 10 de maio. A Pinakotheke, São Paulo fica na  Rua Ministro Nelson Hungria, 200, Morumbi, São Paulo. Funcionamento: de segunda a sexta, das 10h às 18h, e sábados, das 10h às 16h. Entrada gratuita.

ArtRio Marketplace


Patrocinadores


A ArtRio utiliza cookies para personalizar a experiência do visitante em nosso site, analisar dados e ajudar em iniciativas de marketing. Ao clicar em “aceitar”, você está concordando com os nossos termos.