

Sem expor no Rio de Janeiro há cerca de 10 anos e em uma galeria carioca há mais de 30, Cildo Meireles inaugura mostra na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon. Com curadoria de Paulo Venancio, a individual traz objetos e gravuras de diferentes formatos e materiais, produzidos ao longo de cinco décadas. Algumas peças são inéditas, recém-saídas do forno, e serão apresentadas ao público pela primeira vez. De importância fundamental na internacionalização da arte brasileira, Cildo é o mais conceituado artista brasileiro na cena contemporânea mundial, com obras no acervo da Tate Modern (Londres, Inglaterra), Centro Georges Pompidou (Paris, França), MoMA (Nova York, EUA), Museu Reina Sofía (Madri, Barcelona), entre outros. A exposição “Múltiplos Singulares” abriu dia 19 de novembro, com entrada franca, ficando em cartaz até 19 de janeiro de 2020.
Aos 71 anos de idade, o carioca Cildo Meireles fez sua última retrospectiva no Rio no ano 2000, quando apresentou uma grande mostra no Museu de Arte Moderna. Na exposição da Mul.ti.plo, que vem sendo gestada há dois anos, o público carioca poderá ver de perto um conjunto importante de obras, que lidam com noções da física, da economia e da política, temas recorrentes na obra dele. Entre as 16 peças reunidas, quatro são inéditas e estão sendo produzidas em segredo. As surpresas só serão reveladas no dia da abertura.
“A ideia da mostra se consolidou há dois anos, no meu ateliê, com o Paulo Venancio, a partir de um objeto criado há décadas que sintetiza a instalação-performance ‘Sermão da Montanha: Fiat Lux’, apresentada há exatos 40 anos, em 1979, no Centro Cultural Candido Mendes. Foi uma provocação à ditadura militar, durando apenas 24 horas. Muito pouca gente viu. Desde então, guardo essa maquete e agora, finalmente, concluí o trabalho”, explica o artista. “Eu também já tinha combinado uma exposição na Mul.ti.plo com o meu amigo Maneco Müller”. Sócio da galeria, Maneco dá uma pista de outra obra surpresa da mostra: a participação da locutora Iris Lettieri, cuja voz ecoou por décadas, anunciando as partidas e chegadas no aeroporto do Galeão, no Rio. “Um dia, Cildo me revelou um projeto, concebido nos anos 70, que só poderia ser realizado com a voz única dela. Não perdi tempo. Fui ao encontro de Iris e conseguimos realizar o desejo do Cildo, com a mesma fala impecável e inesquecível”, explica Maneco.
“A exposição apresentará múltiplos de Cildo Meireles, que trazem em si o pensamento das grandes instalações do artista”, explica o curador. Uma delas, por exemplo, tem ligação com “Metros”, trabalho apresentado numa emblemática exposição na Documenta, em Kassel (Alemanha, 2002). “Os objetos e gravuras reunidos exemplificam o pensamento de grandes trabalhos de Cildo, sendo alguns pouco vistos”, diz ele. O público poderá conferir de perto também uma nova edição das notas de “Zero Dólar” (1978-1994).
Considerado um dos artistas mais importantes de sua geração, o premiado Cildo Meireles possui obras no acervo de uma das maiores instâncias de consagração da arte contemporânea do mundo,a Tate Gallery. O artista expôs lá, ao lado de Mark Rothko, em 2008. Obras do artista fazem parte também da Coleção Cisneros (NY, Caracas), do Pérez Art Museum(Miami, EUA), da Fundação Serralves (Lisboa, Portugal), de Inhotim (Brumadinho, Brasil), do MAC (Niterói, Brasil) etc. Com sucessivas participações na Bienal de Veneza (Itália), na Documenta (Kassel, Alemanha), Cildo traz no currículo ainda mostras individuais no MoMA e no Metropolitan, em Nova York. Atualmente, o artista está também com uma grande exposição na capital paulista, que vem lotando o SESC Pompeia. “Para essa individual no Rio, procurei reunir o mais significativo conjunto de múltiplos do Cildo, numa espécie de retrospectiva, de forma que as duas se complementassem”, conclui Paulo Venancio.
A Mul.ti.plo Espaço Arte fica na Rua Dias Ferreira, 417, sala 206 – Leblon. Funcionamento: de segunda a sexta, de 10h às 18h30; sábado, de 10h às 14h. Entrada gratuita.