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Carne Sintética de Erika Verzutti

18/10/2019 - Por ArtRio

Em exibição na Fortes D’Aloia & Gabriel, “Carne Sintética” é a primeira mostra de Erika Verzutti no Brasil inteiramente dedicada a seus relevos, conjunto de trabalhos que desde 2013 tornou-se eixo central de sua obra. Pautadas pela experiência tátil, estas “esculturas de parede” arquitetam complexas relações entre pintura e escultura, forma e sensorialidade. Aqui, Verzutti apresenta quinze obras inéditas em bronze, papel machê e argila, articulando referências diversas à história da arte com sua percepção acerca de fenômenos contemporâneos que vão do Instagram à dimensão ética da comida nos dias de hoje.

Este cruzamento de tópicos de naturezas distintas – marca frequente em sua produção – evidencia o propósito da artista em embaralhar, e mesmo confundir, a hierarquia usual com que estes assuntos costumam ser abordados. Em Picasso com Morangos, por exemplo, há a improvável presença de uma figura do artista espanhol incrustada sobre a superfície da obra, lembrando um bolo de chocolate com pequenos morangos esculpidos em bronze. Já em Carne Sintética, o flerte entre a fisicalidade da comida e o gesto escultórico resulta em uma matéria amorfa, cujos tons de rosa evocam o trabalho do canadense Philip Guston. A capacidade da forma de “camuflar-se” em alimento suscita discussões urgentes, ao passo em que os recursos naturais do planeta caminham para o esgotamento e multiplicam-se formas artificiais de confecção da carne e afins.

Em texto publicado no catálogo da exposição do Centre Pompidou, em Paris, José Augusto Ribeiro discorre: “Os relevos incitam olhares táteis, mais que curiosos, engajados em perceber aquilo que o contato físico atestaria, à medida que exploram e inspecionam, em movimentos oculares, um volume de cima abaixo, de um canto a outro, no vaivém de ondulações e desníveis e, em algumas ocasiões, entre matérias distintas.”

O desejo da artista em esgarçar a experiência sensorial encontra ressonância na era de hiperestímulos da internet. Há uma relação entre alguns dos trabalhos e os slimes, as gomas viscosas e multicoloridas modeladas por crianças em vídeos tutoriais que tornaram-se febre nas redes sociais. São obras que excedem os limites dos estímulos visuais, provocando um verdadeiro “formigamento do cérebro” na medida em que acionam e provocam outros insuspeitados campos sensoriais do corpo humano.

A disposição semi-randômica dos trabalhos no espaço expositivo aponta, também, para a condição da imagem na contemporaneidade. Em conjunto, signos e referências múltiplas atravessam o visitante, de maneira simultânea e veloz, quase vertiginosa. No entanto, na contramão de um mundo mediado (e planificado) pelas telas, Verzutti nos oferece imagens cuja fruição, em última instância, demandam a presença física.

A Fortes D’Aloia & Gabriel fica na Rua Fradique Coutinho 1500 – São Paulo. Funcionamento: de terça a sexta, de 10h às 19h; e sábados, de 10h às 18h. Entrada gratuita.

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