Às vésperas de completar 60 anos, a artista visual carioca Brígida Baltar visita sua trajetória e apresenta pela primeira vez um recorte abrangente de sua obra filmográfica. Com curadoria de Marcio Doctors, a exposição reúne 27 trabalhos da artista, produzidos desde o início da década de 1990. São filmes inéditos e também já apresentados ao público, com registros de ações, fabulações ficcionais e narrativas poéticas.
Nas palavras do curador Marcio Doctors: “A importância dessa filmografia é que ela nos permite perceber a construção da obra de Brígida Baltar. Algumas vezes os filmes surgem como percepções poéticas, outras vezes constituem-se em narrativas fabulares de personagens inventados por sua imaginação; mas o que os aproxima é que eles são como fontes que brotam de um reservatório subterrâneo e movente de sensações sutis e delicadas do mundo que Brígida criou”.
Para montar a exposição, a artista dedicou seus últimos dois anos a pesquisar a mapoteca de seu ateliê, selecionando fitas de vídeos e rolos de filmes. Todo o material foi tratado e editado para chegar ao resultado minucioso. “Procurei deixar o trabalho original com apenas algumas pequenas intervenções. Na maior parte deles optei por respeitar o pensamento que tinha na época em que foram produzidos”, explica Brígida Baltar, que começou a filmar com Hi-8 e VHS, depois substituídas pelo Mini-Dv 16mm e pelo HD vídeo.
No saguão de entrada da exposição, o visitante se deparará com a videoinstalação Enterrar é plantar (1994), composta por árvores suspensas circundadas por estrutura de madeira com monitores de vídeo. A obra mostra a artista enterrando, ao redor de uma árvore, vários objetos pessoais, como em um ritual.
Durante o percurso nas diferentes fases da artista, o público poderá conferir pela primeira vez o vídeo das obras Abrigo (1996), em que Brígida é filmada ocupando o molde do seu próprio corpo escavado na parede de sua casa, e Torre (1996), uma construção com tijolos ao seu redor. Destaque também para A geometria das rosas (2002/2019), que durante a edição absorveu uma pane técnica na captura digital das filmagens de um roseiral. Pixels e linhas reenquadram pétalas, folhas, gramas e solo.
A obra de Brígida circula por diferentes linguagens e temas, como busca de identidade, questões urbanas, feminismo e a passagem do tempo. Serão projetados os slides Sou árvore e Sou árvore (parte II), imagem da artista com o rosto coberto pelo cabelo. Em Algumas perguntas (2005/2019), um barco corta a paisagem lentamente enquanto questionamentos sobre sentidos, percepção e esquecimento aparecem na tela. Já em De noite no aeroporto (2000) um grupo de amigos sai à procura de uma árvore bela durante uma noite quente no Rio de Janeiro.
No centro da exposição está a instalação sonora O azul profundo e a música que o Matias fez com a Camille, que trata de um filme que nunca existiu e para o qual foi feita especialmente a música. Brígida apresenta também os enigmáticos filmes de fabulação da série Maria Farinha Ghost Crab, rodados na Ilha Grande com a atriz Lorena da Silva e o filme Casa de Abelha, realizado em sua casa-ateliê dos anos 90 em Botafogo.
A mostra ficará em cartaz até 13 de dezembro, no Espaço Cultural BNDES (v. República do Chile, 100 – Centro). Funcionamento: de segunda e sexta, de 10h às 19h. Entrada gratuita.