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As experiências físicas, nas artes, devem acabar?, por Luiza Adas

18/10/2020 - Por ArtRio

A ArtRio convidou alguns pesquisadores e personalidades que estão vivendo ativamente o mundo da arte – inclusive nesse confuso 2020 – para pensarem com a gente, nos ajudarem a entender, e mostrarem suas visões e ideias sobre alguns artistas, obras ou a própria atualidade.


Há quem questione o uso das mídias sociais e das plataformas digitais para o desenvolvimento de atividades culturais e artísticas. Apesar disso, o avanço dessas plataformas vem trazendo, para todas as áreas do saber, inovações e benefícios, que tornam os conteúdos produzidos mais interativos e engajadores. No caso das artes, isso não é diferente. As ferramentas disponíveis nessas plataformas, auxiliam artistas e instituições a ampliarem o alcance e a disseminação de ideias, reflexões e movimentos.

Se por um lado, durante essa pandemia vimos o quanto as redes sociais ajudaram a área das artes a se expandir, por outro, constatamos que, antes desse período, as instituições artísticas estavam bem atrasadas em relação a outros setores do mercado que, nesse espaço de tempo, lidaram de forma mais rápida com o uso dessas ferramentas. Com a crise pandêmica mundial do Covid-19, as diferentes frentes das artes foram obrigadas a se reinventar, acelerando, assim, o inevitável processo de imersão das artes no universo digital.

Foram muitas as feiras, galerias, artistas, coletivos e espaços que tiveram que rever suas narrativas e práticas, a fim de se consolidarem e se relacionarem com suas comunidades nos meios digitais. Em decorrência disso, nesse período, novas ideias surgiram e auxiliaram na descoberta de soluções para situações que antes não eram bem resolvidas nesse setor. Dentre tais ideias, surgiu o projeto intitulado “Museu do Isolamento”, por mim idealizado. O “Museu do Isolamento”, considerado hoje o primeiro museu criado e pensado de forma 100% digital do Brasil, nasceu com o objetivo de dar visibilidade a artistas de todos os cantos do Brasil, que buscavam expor seus trabalhos e reflexões, decorrentes do período de isolamento social, para um maior número de pessoas. A ideia era, basicamente, romper com o paradigma de que, para que você conheça um Museu e novos artistas, é necessário que você o frequente fisicamente. O “Museu do Isolamento” busca transpor as barreiras físicas e sociais que impedem com que as pessoas se relacionem com a arte e procura dar voz a narrativas que antes não tinham espaço no tradicional meio artístico.

Em pouco tempo, o “Museu do Isolamento” divulgou mais de mil artistas e conquistou, aproximadamente, cem mil seguidores de todos os cantos do país. A rápida conquista do público, no projeto, aponta para possíveis transformações que essas pessoas, de forma geral, e os novos consumidores de arte, esperam do futuro dessa área. A pluralidade de ideias, a descentralização física das exposições, aliadas ao conceito de que a mensagem do artista significa mais do que seu status social, são fortes indícios de que, talvez, os novos consumidores de arte desejem repensar as diferentes relações que podem ser criadas entre as plataformas digitais e os meios físicos.

Para além disso, é interessante notar que, em razão do “Museu do Isolamento” dar visibilidade a obras que tratam de assuntos contemporâneos, muito porque as artes são selecionadas com base nas pautas debatidas pela sociedade, os seguidores do “Museu” sentem-se vivenciando a História da Arte no “aqui agora”. Em outras palavras, é como se todos os dias, as artes postadas pelo “Museu do Isolamento”, traçassem um retrato do momento presente vivido pelos brasileiros, traduzidas em imagens, palavras, “memes”, reflexões e questionamentos, propiciando, assim, uma maior interação público/museu. A ideia do “Museu do Isolamento” de trazer mais artes para o cotidiano das pessoas aponta no sentido de que tais abordagens são, de fato, necessárias, para engajar as pessoas com a arte, nas redes sociais.

De todo modo, acredito, firmemente, que os avanços das atividades culturais e artísticas nos meios digitais jamais extinguirão ou concorrerão com as experiências físicas. Após termos vivido um severo período de isolamento social, está mais do que provado que precisamos do contato físico para podermos vivenciar e experimentar situações de forma integral. No caso das artes, isso é ainda mais necessário. As experiências digitais, repita-se, jamais anularão as experiências físicas, pelo contrário: cada vez mais as experiências físicas irão dispor de ferramentas digitais para complementar as vivências presenciais e os aprendizados dentro dos meios artísticos, trazendo, assim, mais informações, interatividade e ampliando as formas de mediação entre as obras de arte e as pessoas.

O mundo todo vem passando por uma rigorosa transformação, que nos obriga a olhar com mais cuidado para as tendências e transformações que estão por vir. Nesse sentido, cabe a nós, apreciadores e profissionais do universo das artes, estarmos alinhados com os avanços trazidos pelas novas gerações e pela tecnologia, e, com tais ferramentas, nos comunicar da melhor maneira possível com a sociedade, de forma ética e educativa.

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Registro da ArtRio 2020; Fotografia de Bruno Ryfer


Luiza Adas é relações-públicas e fundadora dos projetos @FlorindoLinhas e @MuseuDoIsolamento, criados nas redes sociais com o objetivo de disseminar conteúdos sobre arte e cultura no Brasil de forma acessível e democrática.

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