Palco Instituto Cultural Vale | Conversas: Artista livre é pleonasmo, com os artistas Victor Arruda e Daniel Senise, e mediação de Nathalia Lavigne

A interlocução entre Victor Arruda e Daniel Senise na cena artística do Rio de Janeiro vem acontecendo de diversas maneiras nas últimas décadas. Enquanto Victor inicia sua produção nos anos de 1970, trabalhando em pinturas e desenhos marcados um tom crítico sobre diferentes tipos de autoritarismo, Daniel começa sua prática na década seguinte, tornando-se um dos principais representantes da chamada Geração 80. Ambos foram influenciados pelo processo de transição democrática com o fim da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), vivenciando um momento em que passa a haver uma maior sensação de liberdade.

Nathalia Lavigne é pesquisadora, curadora, professora e crítica cultural. É doutora pela FAUUSP, mestre em Teoria Crítica e Estudos Culturais pela Birkbeck, University of London, e graduada em Jornalismo pela PUC-RJ. Escreve para publicações como Artforum, Contemporary &, ZUM e Folha de São Paulo. Como curadora, já realizou mostras como “Against, Again: Art Under Attack in Brazil” (2020), na Anya and Andrew Shiva Gallery (John Jay College, CUNY), em Nova York; “Táticas de Desaparecimento” (2021), no Paço das Artes, e diversos projetos em galerias e instituições de arte. Em 2021, foi pesquisadora-visitante na Humboldt-Universität zu Berlin, onde vive desde então. Desde 2022, é mentora internacional no programa NEW INC, do New Museum.

Daniel Senise (n. 1955, Rio de Janeiro, Brasil) é um dos representantes da chamada Geração 80, marcada pelo processo de retomada da pintura no Brasil. Sua produção tem forte relação com o espaço, cujos restos são incorporados aos trabalhos, de modo que ele passa a ser apresentado não só como figuração, mas também como matéria exposta. Participou de diversas bienais e mostras coletivas, incluindo a Anozero’19, 3ª Bienal de Coimbra, Portugal (2019); as 18ª, 20ª, 24ª e 29ª edições da Bienal de São Paulo, Brasil (1985, 1989, 1998 e 2010); e a 44ª Biennale di Venezia, Itália (1990). Possui obras em coleções como: Stedelijk Museum Amsterdam, Amsterdam, Holanda; Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, Estados Unidos; Ludwig Museum, Köln, Alemanha; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Niterói, Brasil; e Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo, Brasil.

Victor Arruda é desenhista, gravador e pintor nascido no Mato Grosso, com mais de 40 anos de trajetória artística. O artista se destacou pela criação do grupo Tato e Contato, responsável pela instalação do primeiro ateliê de Arte Livre destinado a crianças, na Funabem. Com uma extensa produção, a obra de Arruda condensa múltiplas referências e influências que remetem a diferentes momentos e tendências ao longo da História da Arte, condensados e amalgamados sempre de forma eficaz, na construção de um estilo único e inconfundível. Em sua pintura, muitas vezes lançando mão de uma poética crua e contundente, elabora uma crítica feroz contra a hipocrisia, o abuso de poder e a presença velada, na sociedade, de preconceitos em relação às questões de gênero. Arruda conta que um momento crítico em sua carreira ocorreu na década de 1970, quando, com pouco mais de 20 anos, decidiu enfrentar preconceitos contra a homossexualidade enraizados na sociedade brasileira. Questionando as atitudes conservadoras e machistas, decidiu que sua pintura seria uma reação contra essas posturas. Participou de diversas exposições coletivas e realizou mostras individuais na EAV Parque Lage (1986), Studio d’Arte Giuliana de Crescenzo, Roma (1988), Museu de Arte Moderna do Rio (1993), Paço Imperial (2022), entre outras.

Obra em destaque:
Victor Arruda
Homenagem a Lichtenstein, 2021 (Working Title)
acrílica sobre tela
76 x 82 cm