“Pedra Afiada” é a segunda exposição individual de Edu Monteiro na Galeria Movimento. Com curadoria de Maurício Barros de Castro, a mostra reúne trabalhos recentes inéditos e séries anteriores conectadas em torno do conceito de “Antropoceno”, esta nova época geológica marcada pela ação humana, que acelera radicalmente os ritmos terrestres. São obras em equilíbrio precário, que transitam entre fotografia, vídeo, performance, objetos escultóricos e revelam esse novo tempo de habitat ferido. Para a maioria dos pesquisadores do assunto, sem ações urgentes, nosso destino se encaminha para um ponto irreversível. Diante dessa realidade somos obrigados a equilibrar-nos, achar nosso ritmo, ponto de equilíbrio nessa dança tectônica.

Duas séries dão a tônica da exposição. A primeira é “Paisagem Vertical”, contemplada com o primeiro lugar no XVI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia. A série apresenta uma cartografia pessoal que subverte a representação comum do espaço, um encontro de temporalidades. Em 1997, Edu Monteiro fotografou as paisagens verticais do Sul do país, na região de Aparados da Serra, divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em um diálogo de imagens anteriores e novas, realizadas em 2022, sujeito e espaço se confundem, tensionam a relação entre natureza e cultura através de fotografias atravessadas por performance e objetos escultóricos que marcam as mudanças no local e na poética de Edu Monteiro ao longo desses anos. Um dos cânions fotografados se chama Itaimbezinho, nome de origem Tupi-Guarani que significa pedra afiada.

A outra série que dá prumo à mostra é apresentada através da instalação “Caixas de Memórias Ancoradas na Pele”, finalista do prêmio nacional de fotografia Pierre Verger 2019. Nela, Edu apresenta pela primeira vez a série “Ilha-Terreiro” impressa em pele de carneiro. Realizadas na Martinica, são retratos de lutadores de ladja e artistas locais, fotografados no mar do Caribe, portando objetos escolhido por eles para estabelecer um diálogo com o atlântico negro. Este trabalho possui um aspecto escultural que remete à tridimensionalidade. A retroiluminação confere textura ao couro: cada pele tem uma história, uma vida, o que torna cada impressão única.

Com matérias recorrentes em sua poética, Edu mistura ferro, couro, madeira, pedra e outros elementos marcados pelo tempo, pelas fusões e metamorfoses terrestres. São obras orgânicas em constante movimento, transformações lentas como o crescer das unhas, como os deslocamentos das placas terrestres, do girar da Terra em torno do sol. Desde as primeiras pedras lascadas, afiadas pelos hominídeos que começaram a alterar as relações de sobrevivência entre os animais e a Terra, passando pelas invasões coloniais, revolução industrial, os ritmos aceleraram vertiginosamente.

Pedra Afiada, de Edu Monteiro
25 de março a 29 de abril de 2023
Galeria Movimento
Rua dos Oitis, 15 – Gávea
Terça à sexta de 11h às 19h ; Sábado de 13h às 18h

Paisagem Vertical (série_ Paisagem Vertical), 2022