A exposição se constrói como um exercício de observação compartilhada, em que a pintura se torna um território de invenção e memória. As obras reunidas revelam uma vibração constante entre o visível e o indizível. Em Beatriz Buendia, o gesto é impulsivo e intuitivo — uma dança entre cor e matéria, onde a incerteza se converte em potência criadora. Clara Goldenstein escava imagens que emergem do tecido e da lembrança, tecendo um léxico íntimo de símbolos e afetos. Em George Teles, corpo e território se confundem: o gesto é respiração, a matéria é extensão da paisagem. Jesus José trabalha na borda da escuridão, instaurando uma luz difícil — um sol negro que ilumina o intervalo entre o ver e o não ver.

João Balardin revisita cenascotidianas em composições de copos, mesas e cadeiras que se tornam testemunhas do tempo. Em Paulo Valeriano, a paisagem é o lugar do desaparecimento — o olharse dissolve entre o que resta e o que se apaga. Sara Costa, por sua vez, pinta lembranças que sobrevivem ao tempo; suas cores guardam rastros e ecos, o rumor dasimagens que se recusam a fixar-se.

O arabesco, com sua curva infinita, é a imagem dessa travessia: um movimento que não se encerra, que resiste ao fim. Nele, cada artista encontra uma dobra própria, uma forma singular de habitar o intervalo entre o gesto e o pensamento. Na Beira do Arabesco é também um estudo sobre o olhar — sobre o modo como a pintura pode ainda se oferecer como lugar de presença e de pensamento.

Trata-se de uma coreografia lenta, em que o pensamento não se separa da matéria e a forma nunca se encerra. Na convivência entre essas práticas, estudar é partilhar. Na Beira do Arabesco faz da pintura um campo expandido de relação — onde cada trabalho é também uma forma de diálogo e de habitação de um tempo comum.

Na beira do arabesco, coletiva
Quadra | Rua Barão de Tatuí 521 – São Paulo
Abertura: sábado, 8 de novembro, das 14h às 18h
Até 24 de janeiro de 2026
Terça a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 11h às 16h
Entrada gratuita