Sobre a obra

Vila Anglo

"A pintura de Gabriela Sacchetto é temporal. Embora cativem em princípio pela pequenez, convocam a uma temporalidade particular. De frente a elas, faz sentido pensar que as pinturas de bolso de Gabriela são do tamanho da respiração, uma medida diferente das dimensões como altura e largura (e, neste caso, profundidade). Diz respeito a um tempo que, com alguma sorte, conseguimos alargar em um curto espaço. Não à toa, é preciso estar disposto a suspender o tempo ao redor, aproximar-se e focar o olhar: há muitos detalhes para captar, que a mirada rápida pode deixar escapar. Esta pausa propicia uma dimensão quase meditativa, cuja principal ferramenta é a respiração. Respirar media o tempo interior, agencia momentos de intervalo raros nos tempos recentes." Bruna Costa.


Ficha técnica

2024
Óleo sobre madeira


Sobre o artista

Gabriela Sacchetto

DO TAMANHO DA RESPIRAÇÃO “Voz e vento apenas Das coisas do lá fora” (Hilda Hilst) A pintura de Gabriela Sacchetto é temporal. Embora cativem em princípio pela pequenez, convocam a uma temporalidade particular. De frente a elas, faz sentido pensar que as pinturas de bolso de Gabriela são do tamanho da respiração, uma medida diferente das dimensões como altura e largura (e, neste caso, profundidade). Diz respeito a um tempo que, com alguma sorte, conseguimos alargar em um curto espaço. Não à toa, é preciso estar disposto a suspender o tempo ao redor, aproximar-se e focar o olhar: há muitos detalhes para captar, que a mirada rápida pode deixar escapar. Esta pausa propicia uma dimensão quase meditativa, cuja principal ferramenta é a respiração. Respirar media o tempo interior, agencia momentos de intervalo raros nos tempos recentes. Não é simples condensar tanto em tão pouco; a negociação com o suporte demanda escolhas assertivas. Não é só o tempo da fruição, mas também do processo, desde o olhar até a questão da fatura, inerente à cozinha pictórica. Suporte caro à história da arte, a pintura nunca cessa de produzir tensionamentos, mesmo no contemporâneo. No trabalho de Gabriela, a pintura se materializa no fragmento: pedaços de madeira que foram ou seriam utilizadas na construção civil, rejeitos de obras, tacos, rodapés e tanto mais de uma memória do material que não acessamos, mas, de algum modo, nos formatos ou nas ranhuras, demarca sua presença. Estes pequenos blocos de madeira dialogam com os conteúdos das imagens – geometrias sensíveis que informam o dia a dia e o singular que ele abriga. Um galpão, uma caixa d’água, uma biruta, um poste e sua sombra ou um varal viram problemas de forma e cor a serem resolvidos num restrito espaço. O resultado desta de investigação – encaixado e luminoso – dialoga com uma modernidade presente em Giorgio Morandi e Amadeo Lorenzato, que, aos seus modos, foram capazes de transpor objetos e vistas cotidianas para articulação de espaços pictóricos singulares, consolidando uma pausa próxima das que Gabriela Sacchetto constrói. A mesma trivialidade é observada em seus vídeos, nãonarrativos, como extensão dos seus interesses pitorescos: recortes de paisagem com seus movimentos econômicos, sutis. Pinturas-tempo que ostram concretamente as imagens observadas pela artista: cenários ordinários, mas vivos. O desenho de observação da paisagem é praticado nos momentos considerados vagos. Este vazio não é apenas um “entre” coisas, mas torna-se assunto principal no trabalho. O gênero da paisagem se despe das relações históricas e representativas para instaurar afeto: a relação com a cidade paulistana. No trabalho da artista, a metrópole que muitos brasileiros conhecem se transforma no universo dos “espaços vazios, espaços de pausa, de respiro”, do respiro que altera o tempo no corpo. É a São Paulo lírica, carregada de memórias de vida e afeto. Respirar evoca também o ar, esta etérea e invisível atmosfera que nos circunda. Relembra que o vazio não é o nada, mas é sempre cheio, como sentimos concretamente nos pulmões. O invisível se faz presente também no vento, provocado pelo sopro ou pelo movimento. O vento anima as coisas estáticas, visto que não há presença humana. Ar em velocidade, o vento traz ritmo aos ventiladores de ar e função às birutas, quase arquetípicas. E é tão efêmero quanto perene, pois sempre retorna para mexer e dar vida à paisagem. (Bruna Costa) *Texto curatorial produzido para a exposição individual de Gabriela Sacchetto para a ArteFASAM Galeria em BH - jun/22


Arte FASAM Galeria

Belo Horizonte / MG

Inaugurada em 2019 e situada em Belo Horizonte, a Arte FASAM Galeria atua na representação e no desenvolvimento de um seleto grupo de artistas em processo de consolidação e inserção no cenário contemporâneo nacional. Através de linguagens como pintura, desenho, fotografia, vídeo e instalação, nossos artistas são caracterizados pelo interesse numa perspectiva poética e vigorosa, que encontra na experimentação da forma, dos materiais, dos afetos e dos imaginários sócio-culturais, o lirismo necessário para revisitar e reposicionar a realidade que nos circunda. Além da agenda dinâmica de exposições coletivas e individuais, a Arte FASAM Galeria também investe na formação de público e na democratização do acesso à arte, a partir da promoção de cursos, debates, encontros com artistas e curadores, entre outras atividades de cunho educativo. Acreditamos na parceria entre artistas, galerias, instituições e comunidades a fim de difundir e promover a potência da arte contemporânea brasileira mundo afora.


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