Nascida em Buenos Aires e formada pela exigente Escola de Belas Artes da cidade, Alícia era interessantíssima como pessoa e apaixonada por tudo que a cercava. Arguta observadora, antenada em tudo que sua sensibilidade elegia como importante e digno de aprofundamento. Iniciou seu trabalho como designer e, ainda na Argentina, teve início sua carreira como pintora. Veio para o Brasil em 1963 e aqui desenvolveu uma interessante atividade múltipla, também como gravadora, escultora e – surpreendentemente – como criadora de joias, peças de impacto e muito de acordo com sua personalidade forte e marcante. Esta nova exposição é uma antologia de alguns dos períodos de sua obra, sempre vivenciados com total liberdade de expressão, de técnicas e de temas. Entre tantas vertentes de sua longa carreira, a artista criou nos anos 1960 e mais recentemente, na década de 1990, um percurso de trabalhos valorizando aspectos da cultura africana – as máscaras – e dos representantes da raça negra, captados principalmente em suas viagens à Bahia, que resultaram num extenso registro fotográfico e pictórico. Vale ressaltar a contemporaneidade dos corpos humanos desmembrados e dissecados – desconstruídos, numa palavra muito em voga – e reorganizados num exercício intenso de recriação. Alícia construiu uma obra de forte viés psicanalítico, evidenciando sua inquietude existencial que transparece de forma próxima – segundo o crítico italiano Vittorio Sgarbi – “à arte metafísica e surreal resultando, assim, em uma espécie de teste psicanalítico, um autorretrato íntimo cujo propósito é reclamar tanto espaço quanto possível dos segredos do inconsciente”. Esta oportunidade de redescoberta de um trabalho tão segredado, onde a artista se mostra por inteiro, sem pudores, com uma paleta de cores marcante e bem equilibrada constitui real obra de exceção, de alta qualidade e particularmente imaginativa.