MOVIMENTO

Instalação "Pássaro que canta na gaiola descreve as nuvens lá fora" | Mateu Velasco

Um poema é uma coisa que evoca memórias de coisas reais e imaginárias (…)

As coisas sobre a janela agem como um poema.

Elas são imagens que não refletem nada (…)

Eu canto sobre as coisas sobre a janela

(Jarkko Laine)

 

PÁSSARO QUE CANTA NA GAIOLA DESCREVE AS NUVENS LÁ FORA

 

Me interessa a realidade distraída do cotidiano,

a domesticação do nosso domicílio no espaço

e das paisagens que articulam nossa experiência da duração do tempo.

 

Me interessa o que talvez não interesse.

Somos o que lembramos ser.

O reflexo dentro dos olhos refletidos no espelho.

As coisas que passam e ficam guardadas em algum lugar no futuro,

bem no limite do que conseguimos ver……

 

Sartre diria que “pinturas são janelas para um mundo inteiro”, pois ao tensionar a realidade física e estrutura expressiva, assombram nosso olhar.

No entanto, nosso espaço existencial não é um espaço pictórico bidimensional. É preciso estar entre as coisas para projetar significados e significações no que vemos; transformar o caos em cosmos.

Nossos ambientes vêm perdendo gradativamente sua essência material e se impregnando com seu caráter formal.  A forma do ambiente que nos cerca define o tempo presente.

Esta série surgiu a partir da coletânea de fragmentos do mundo real simulado pelo virtual. Nos últimos dois anos percorri distâncias enormes dentro do Google Street View, coletando paisagens e memórias achatadas pelos pixels do monitor.

Usando apenas material de construção, procurei resgatar o que foi apropriado pelo virtual. Compensados de madeira, tinta para piso ou automotiva, pincéis de parede. Como que para reconstruir o que foi tomado fosse necessário construir uma realidade tangível. O contraste da tinta preta sobreposta à brancura da tela, do liso, encerra a calmaria do vazio. Latas vazias, restos de obras e objetos ordinários do dia a dia. Escombros, sobras e descartes estão à margem da funcionalidade e da estética. O descartável é efêmero na forma, mas atemporal na matéria. O desgaste e a decomposição geralmente não são considerados elementos positivos sobre o caráter atemporal que uma obra de arte deveria ter, pois contrapõe a ideia de duração. Mas afinal, quanto tempo o tempo tem?



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