BIANCA BOECKEL GALERIA

Primários são os fluxos

Eduardo Baltazar

Texto e curadoria de Daniela Avellar

Os trabalhos de Eduardo Baltazar aqui dispostos convocam nosso olhar a uma mirada através do meio das coisas. Gesto que expande a atividade restrita à retina e ao movimento unidirecional entre olho e pintura, assim como o “calafrio retiniano”, precisamente diagnosticado por Marcel Duchamp. A visada em questão entra nas situações no meio delas, identifica os entes dispostos em redes articuladas, também evoca o que é da ordem do sensível e do inteligível que não se esgota em uma recepção passiva das coisas, apenas mediada pelo que se vê em uma dimensão de proximidade. As coisas criadas por Eduardo provocam esse tipo de movimento por serem objetos reativos a tentativas de purificação e se engajarem em um profundo hibridismo.

É certo que a arte não se separa das condições de sua produção, e que a produção do artista hoje também não se descola propriamente de seu lugar enunciativo, de alguma marcação teórica. Partindo da pintura talvez como uma forma de pensar (não de representar, mas um modo de formalizar, também elaborar), Eduardo Baltazar não sucede a um realismo presente nas ciências naturais, tampouco se engaja em um construtivismo típico da área das humanidades. Na seleção feita para a exposição há a presença de bichos, plantas domésticas, humanos, situações urbanas, imagens de celular, entendendo todas as coisas em alguma relação de interdependência. Como se ao pintar vegetações, não as assumisse como parte exclusivamente de um mundo mononatural, e ao retratar pessoas, não perseguisse um multiculturalismo. As coisas criadas pelo artista beiram um quase, tratam-se de quase-objetos que habitam concomitantemente o natural e o cultural, questionando a separação entre as duas esferas, precisamente delineada na consolidação da modernidade. E da pintura nascem outros hibridismos, a feitura de esculturas em resina que partem de elementos encontrados e percebidos (e integrantes do mundo dito “natural”). Novamente coloca-se em discussão essas separações dualistas, através da criação de novos objetos, mas igualmente formatos de circulação de imagem enquanto prática espacializada, onde modulações de cor, luz e velocidade operam.



A ArtRio utiliza cookies para personalizar a experiência do visitante em nosso site, analisar dados e ajudar em iniciativas de marketing. Ao clicar em “aceitar”, você está concordando com os nossos termos.