Yasmin Guimarães
Antes de chegar à pintura, Yasmin Guimarães começou sua pesquisa no campo da fotografia conceitual e na experiência com objetos instalativos. Em uma de suas fotografias Yasmin sobrepôs uma fita métrica sobre a linha do horizonte, criando outra escala para aquela paisagem e ao mesmo tempo tirando a noção de profundidade. Já havia ai uma busca em escalonar o espaço e eliminar a perspectiva trazendo a imagem para o plano. Seja consciente ou não esta imagem já aponta uma intenção de pintura, a planalidade, pois isso é semelhante ao processo que os pintores acadêmicos sofreram após o surgimento da fotografia. Criou-se um embate de representação da paisagem e a pintura teve que buscar outros artifícios e intenções, uma vez que foi superada naquele contexto. Logo após esta experiência Yasmin inicia seus estudos em pintura primeiro em papel depois passando para tela de linho em pequeno formato. Seus trabalhos se atêm ao plano, em alguns momentos surgem indícios de uma paisagem, mas ainda assim com manchas de tinta, sem o artificio da linha e do ponto de fuga como instrumento de ilusão e profundidade. Característica essa herdada do grupo de artistas do expressionismo abstrato, que juntamente com o teórico Clement Greenberg enalteceram o plano da pintura como sua única característica própria, diferindo-se assim da fotografia, da escultura e do desenho de arquitetura. Entretanto esta foi uma definição separatista, que gerou polêmica e limitou a pintura a um determinado alcance de possibilidades, sendo este um suporte já tão antigo e tão explorado. Mas como o próprio Greenberg escreve em seu texto Pintura Modernista de 1960 “A arte, entre outras coisas, é continuidade”. Nos trabalhos apresentados nesta exposição Yasmin desenvolve seu processo de pensar o fazer da pintura e os desdobramentos que ela pode alcançar. Em sua maioria abstratas, utilizando tinta óleo, pontos, pinceladas, manchas em tons pastéis, compõem o espaço delimitado pelo chassi como que traduzindo interfaces e sensações de uma paisagem imaginária, ora como uma sugestão, ora de forma abstrata. Faz uso de cores suaves, de pureza, de tranquilidade, sem temas inquietantes, como um calmante mental para qualquer um. Quando perguntei sobre cores fortes e intensas, ela me respondeu: “é um grito que eu não queria dar”. No entanto o que nos surpreende em alguns momentos é a utilização da tela crua aparente, nos mostrando a verdade do suporte, o que está por trás da pintura, a liberdade em depositar a tinta apenas nas bordas e arredores deixando a tela nua como tema central. E neste sentido, ela foi tão a fundo que começa a utilizar uma tela de voile esticada no chassi, cuja transparência nos revela o que esta por trás da tela. Passa então a fazer pintura sem usar tinta, apenas com voile e papeis de seda, criando campos de cores disformes e sutis. Isso nos mostra a possibilidade de expansão dos limites de se pensar e de se fazer pintura, nos mostra a liberdade do artista em transcender o suporte, independente da intenção de criar uma paisagem imaginária ou abstrata. Portanto o conjunto de obras que Yasmin aqui apresenta, utiliza-se da pintura seja no suporte tradicional ou não, para criar sua poética, uma poética que traduz sentimentos, sensações, leveza, talvez uma forma de suportar os conflitos de uma sociedade, como ordenar um caos, uma ordem cuja medida é o próprio instinto. Nascida em 1991, Ribeirão Preto, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.