Valdeir Maciel
Participante da tendência nacional do Construtivismo, Valdeir Maciel foi autodidata e frequentou muito de perto o círculo do teórico e crítico Theón Spanudis, que vislumbrou, desde o início, o prodigioso talento do pintor. Utilizando-se das formas geométricas mais simples: o triângulo e sua forma dobrada, o losango, o quadrado, o retângulo e, já como resultado do ritmo de sua pintura, o trapézio, empregou cores por vezes ousadas e de vários matizes. Pelas características de seus trabalhos, Valdeir pode ser incluído na tendência norte-americana da Hard-edge abstraction (de difícil tradução para a língua portuguesa): a pintura de contornos bem definidos. Com formas finitas, planas, de arestas nítidas, essa vertente não têm por objetivo evocar no expectador nenhuma lembrança de formas que ele possa ter visto em outras situações. São formas autônomas, autossuficientes. Essa geometria é parte da tendência de se afastar das qualidades expressivas da abstração gestual. Muitos outros pintores também procuravam evitar os espaços pós-cubistas da obra de Willem de Kooning, e no lugar destes adotaram os espaços abertos de uma única cor que podem ser vistos na obra de Barnett Newman. Assim, a Hard-edge abstraction caracteriza-se pela economia das formas, intensidade das cores, execução impessoal e planos de superfície lisa. O termo Hard-edge abstraction foi criado pelo crítico Jules Langsner e, no início, nomeou uma mostra de 1959 que incluía os artistas Karl Benjamin, John McLaughlin, Frederick Hammersley e Lorser Feitelson. Apesar de, mais tarde, esse estilo ter sido frequentemente citado como California hard-edge, e os referidos quatro artistas se terem tornado sinônimos do movimento, Langsner eventualmente decidiu dar à mostra o título de Four Abstract Classicists (Quatro Classicistas Abstratos), pois lhe parecia que o estilo marcava um afastamento do romantismo do Expressionismo Abstrato. Spanudis também definiu a ideia de Arte Transcendental como “aquela que ultrapassa o imediatismo da obra, ofertando e proporcionando-nos vivências numinosas que variam entre o magismo dos que têm origem na mesclagem com as culturas dos afro-brasileiros e ameríndios”, aí incluindo a obra de Maciel. Spanudis afirmou que os complexos formais de Maciel “colocados no meio da tela sugerem símbolos de objetos sacrais e litúrgicos, símbolos de objetos significativos e transcendentes, algo de místico e revelatório”. Esta descrição está muito próxima daquela que se poderia fazer do trabalho de Rubem Valentim e seu acercamento explícito da mitologia africana – que, no caso de Maciel, se apresenta mais sugerida e misteriosa. Cartesiano sem se afastar da emoção, Valdeir Maciel produziu uma marcada pela rigorosa geometria e por cores equilibradas, constituindo um geometrismo lírico. Seus trabalhos podem ser agrupados em dois blocos: o da geometria simétrica (onde as formas se sobrepõem ou agrupam de maneira estável) e o da geometria irregular, quase caótica (onde a composição se equilibra principalmente pelas cores ora vibrantes, ora melancólicas). Em ambos os casos, formas e cores, Valdeir Maciel se revela surpreendente. Antonio Carlos Suster Abdalla, Janeiro de 2018