Marcelo Mello
Não Pinto Sozinho, Tenho o Mundo Debruçado Sobre Meus Ombros Brasileiro, gay, nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, mais especificamente na Ilha do Governador, atualmente morador de Santa Teresa, Marcelo Mello propõe reapresentar valores e atitudes desgastadas e / ou normalizadas do nosso dia-a-dia. Segundo o próprio artista: “Busco a Pintura no meu cotidiano. O meu trabalho começa a partir da observação do que ocorre nas ruas, das andanças pela comunidade em que estou inserido e, como um cronista, me interesso pelo o que é popular, comum, pelas superfícies e o acaso nas ações sofridas por elas. Pinto com o intuito de ampliar vozes e falar de questões como: representatividade, dignidade, racismo, exclusão e violência, mas sempre tendo em mente que sou pintor e parte ativa do meu contexto social”. Ranhuras, pixos, massas nas paredes, umidade... são equiparados às técnicas tradicionais da Pintura como impastos, veladuras, afrescos e pigmentações na construção de suas telas, que têm, na edição e ressignificação de imagens vindas de artistas que o antecederam, diálogo com a História da Arte. “A formação de um pintor exige conhecimento da História da Pintura e os caminhos que foram tomados desde, no mínimo, a Renascença. Isso, no meu caso, além de formar pensamento crítico, ajudou a construir um repertório iconográfico que aplico e edito constantemente em minhas telas, resolvendo assim, também, um desconforto ético em usar situações e pessoas reais. Ao unir imagens de pintores que me formaram e o acaso das composições das ruas, coloco no mesmo tabuleiro, épocas e representações diferentes, atitudes e pensamentos distintos. Com isso, posso tocar em questões da Pintura como: temporalidade, deslocamento de contexto, figura e fundo, planaridade e etc... posso me situar local e temporalmente”. Na singularidade dessas relações, narrativas em superfícies caóticas geralmente, e ao mesmo tempo uma percepção reformulada do cotidiano, onde se tem na Pintura atuação crítica, Mello reavalia e desconstrói sua posição como artista, validando suas escolhas segundo uma autoafirmação: “não pinto sozinho, tenho o mundo debruçado sobre meus ombros”.