Julio Martins
[Júlio Martins da Silva] 1893, Icaraí | RJ - 1978, Rio de Janeiro | RJ Nasceu em Icaraí, Niterói, no final do século XIX. Começou a vida na roça. Desde garoto, depois de alfabetizado, procurou escolas e até professor particular para aprender gramática, pois gostava muito de poesia, que acabou depois por compor concomitantemente à realização de várias de suas pinturas. Seu pai, João Martins da Silva, morava na roça e trabalhava na cidade como cozinheiro. Com a morte do pai, a família não pode pagar a meia ao fazendeiro e vai para o Rio de Janeiro, dividindo-se por casas de família para prestar serviços domésticos. Alfabetizado no emprego por exigência da mãe, aos oito anos de idade Júlio dava recado, fazia compras. Depois de idas e vindas à companhia materna e de passar por variados empregos, sempre comprando e lendo livros, terminou indo para a cidade do Rio de Janeiro. Levou aí a vida de certa boemia: trabalhava uns meses, parava por causa do carnaval, ia muito a teatro, aos cafés-concertos. Empregou-se, então, como peão no Hotel Avenida, passando a cozinheiro até se aposentar. Começou a pintar com lápis crayon aos 29 anos. Aos 47 anos de idade usa pela primeira vez o lápis de cor. Após a aposentadoria como cozinheiro, morando no morro União, em Coelho da Rocha (RJ), até sua morte, Júlio dedica-se exclusivamente à pintura, agora com tinta a óleo, técnica em que se iniciara quando morava no Centro. A sua pintura constitui-se essencialmente de paisagens, com o predomínio do verde, sua cor predileta. Ele as imagina, pormenorizando-as, contudo, de atentos e realistas estudos de folhas, árvores, pássaros, flores, gestos, vestimentas, animais. As figuras humanas se fundem harmoniosamente no halo verde da paisagem, colhendo flores, em cirandas de mãos dadas. Tudo é delicadeza, idílio, euforia, às vezes repassada de uma ponta de humor. Nascido no século XIX, Júlio morreu aos 85 anos e teve a plena experiência em sua vida urbana das transformações sociais e tecnológicas ocorridas nesse largo período. Apesar da discreta metafísica de que se imbui seu trabalho, ele não se furtou à exposição da angústia histórica do seu tempo, exprimindo-a com igual sutileza. Pequeno Dicionário do Povo Brasileiro, século XX | Lélia Coelho Frota – Aeroplano, 2005