Joseca Mokahesi Yanomami
1971, Rio Uxi u, Terra Indígena Yanomami, Brasil Vive e trabalha na comunidade Buriti, Terra Indígena Yanomami, Brasil A obra de Joseca Mokahesi Yanomami tem como ponto central a tradução da cosmologia yanomami em narrativas visuais. Por meio do desenho e da pintura, o artista dá corpo às histórias dos tempos ancestrais e às múltiplas dimensões da terra-floresta yanomami, visível somente aos xamãs. Filho de um grande xamã, Joseca criava, desde jovem, desenhos efêmeros pela floresta. É a partir da relação com não-indígenas que passa a utilizar papel, lápis e caneta em sua produção, apropriando-se desses materiais e, simultaneamente, do conceito ocidental de arte. Dessa forma, o artista desenvolve sua estratégia de comunicação com as gerações mais novas de seu povo e, ao mesmo tempo, de aproximação dos napë pë (não-indígenas) com o universo yanomami. “Eu sou um Yanomami, por isso minha mente se abriu ao desenho na floresta pouco a pouco. Não foi na cidade. Ninguém me ensinou, foi a floresta que me ensinou a desenhar. Foi no meio da floresta, brincando, que minha mente se abriu realmente ao desenho. Foi assim que comecei a desenhar e é por isso que continuo até hoje”, afirma o artista. “Eu não faço meus desenhos sem motivo, me inspiro nas palavras dos xamãs. Daqueles que têm os mais belos cantos, daqueles que sabem realmente fazer ouvir as palavras dos espíritos xapiri pë. Quando fazem suas sessões xamânicas, eu escuto seus cantos, gravo na minha mente todas essas palavras e depois as transformo em desenhos. Eu desenho então tudo o que descrevem os xamãs: os espíritos, seus ornamentos, seus caminhos, os lugares por onde descem, e assim eu desenho as palavras dos espíritos que escuto em nossa casa.” Na década de 1990, Joseca funda a primeira escola yanomami em sua comunidade, incentivando jovens e crianças a se alfabetizarem na língua yanomae. Nesse período, participa da produção de diversas cartilhas bilíngues (yanomae/português) para os programas de educação escolar e de saúde. Enraizada na cosmologia de seu povo, sua obra posiciona-se em novo lugar na história da luta yanomami pela defesa de seus direitos e território por meio da arte. A ação foi iniciada na década de 1970 pela fotógrafa Claudia Andujar com um grupo de xamãs yanomami e, atualmente, é apoiada pela Hutukara Associação Yanomami, fundada por Davi Kopenawa em 2004. A convite de Bruce Albert, antropólogo e amigo de longa data do artista, Joseca participa em 2003 de sua primeira exposição, L’Esprit de la Forêt na Fondation Cartier, Paris, França, e começa a circular em exposições nacionais e internacionais. Em 2022, realiza sua primeira individual, Kami Yamak? Urihipë [Nossa Terra-Floresta], no Museu de Arte de São Paulo – MASP. Em 2024, sua obra é incluída na 60ª Bienal de Veneza, Foreigners Everywhere, na Itália. Destacam-se também exposições coletivas como: Siamo Foresta, Triennale Milano, Milão, Itália, 2023; Histórias Indígenas, MASP, São Paulo, Brasil, 2023; Les Vivants, Le Tripostal, Lille, França, 2022, Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea, Museu de Arte Moderna – MAM, São Paulo, Brasil, 2021; e Trees, Power Station of Art, Xangai, China, 2021. Sua obra está presente nas coleções da Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, França e do MASP, em São Paulo, Brasil. A representação de Joseca Mokahesi é uma parceria entre a Millan e a Hutukara Associação Yanomami.