Izabel Mendes da Cunha
Izabel Mendes da Cunha 1924 - 2014, Itinga, Vale do Jequitinhonha | MG Filha de paneleira e de pai lavrador, seu marido era vaqueiro. Seu figurado inicial, também introduzindo por ela na região, nos inícios dos anos 70, consistia em bois, cavaleiros, passarinhos pousados em galhos, pequenos presépios, que recebiam engobo de tabatinga – barro branco. Fazia também louça mais moderna para o repertório de barro da região; jogos para feijoada, cinzeiros, aparelhos de jantar. Viúva, foi morar com os filhos em Santana, onde em seguida, a partir de 1978, criou as noivas e noivos, mulheres amamentando, matronas e moças de grande formato que a notabilizaram em todo o país. Para ampliar o tamanho das esculturas, ela mesma aumentou sozinha a dimensão dos seus fornos e diversificou os tons de barro usados nas fisionomias e nas roupas das figuras ou “bonecas”. De início, estas grandes figuras tinham a cabeça destacável, uso ligado à sua concepção original como moringas. Com o tempo, as cabeças se integraram ao corpo, terminado por se transformar cada vez mais em esculturas, perdendo assim todos os vestígios utilitários e passando em definitivo para os padrões urbanos do campo do estético. Isabel vendia diretamente para compradores das cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, sendo a única artista, de todo o Vale do Jequitinhonha, ao lado de Ulisses Pereira Chaves a alcançar preços minimamente justos para seu trabalho. Conferia extraordinária expressão às fisionomias caboclas, brancas ou negras das mulheres que esculpe, sempre de grande dignidade e como que imersas em pensamentos profundos. No final dos anos 90, disse-me que faz figura de “mulher pobre e mulher rica, pois todo mundo é filho de Deus”. Como é freqüente, ao revelar-se um mestre de qualidade em meio popular, ela formou discípulos, de início na sua família nuclear. O genro, João Pereira de Andrade (1952), hoje já com temática própria, cria mulheres mais sensuais, parcialmente desnudas, além de moças na janela, homens, meninos pobres, mães grávidas, casal de noivos. O filho de Izabel, Amadeu Mendes – ainda lavrador em parte do tempo – ajudava a mãe no preparo inicial das figuras antes de casar-se com Mercina, e é também um bom animalista. As filhas, Maria Madalena e Glória, dominam a técnica de construção da figura com a maior segurança, bem como a neta, Andréa Pereira de Andrade (1981), que denota muita personalidade nas personagens que tira do barro e pinta em requintados tons baixos de cinza, branco, negro, terras. Da “escola” de Izabel há que citar ainda Placedina Fernandes Nascimento, falecida cedo, que dava uma forma extraordinária aos olhos rasgados e às fisionomias às vezes angulosas de suas mães amamentando, mais dramáticas. Segundo Marina de Mello e Sousa (SAP, n 59, 1995), Izabel partilhou seu conhecimento “com o prazer próprio dos genuínos mestres” com todos os que procuram, e assim “criou ao redor de si uma escola de ceramistas, que envolve todos os membros de sua família residentes em Santana e muitas outras pessoas do lugar”. Izabel participou de exposições nas capitais do Sudeste desde a década de 80, e seu trabalho está representado nos principais museus de arte popular do país. Pequeno Dicionário do Povo Brasileiro, século XX | Lélia Coelho Frota – Aeroplano, 2005