G.T.O
G.T. O (Geraldo Teles de Oliveira) 1913, Itapecerica|MG - 1990, Divinópolis|MG Seu primeiro trabalho surgiu de um sonho, em 1965, e a partir de então ele considera a escultura como um legado divino e uma missão. G.T.O. passou a infância e a juventude em Divinópolis (MG). Aos 28 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde trabalhou como moldador, funileiro e fundidor. De volta a Divinópolis, em 1951, conseguiu emprego como vigia noturno do hospital São José, onde foi internado para tratamento de saúde. A pedido do padre, esculpe uma imagem para a igreja do Bom Jesus, perto da sua casa. Revelado por um arquiteto mineiro, o trabalho de G.T.O. foi logo comercializado por galerias de arte. Sua excelência já era unanimidade nacional no fim da década de 1960. Participando de várias exposições coletivas em países europeus e americanos, ele foi indicado para as Bienais de São Paulo de 1969 e 1971. Em 1973 integrou grande exposição sobre o Brasil em Bruxelas e depois em Paris. Consta de “Entre dois séculos”, de Roberto Pontual (1987), resumo da arte brasileira no século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Tem trabalhos nos principais museus de arte popular do país. Mestre da linguagem universal, Geraldo Teles de Oliveira – G.T.O. – recorre apenas à figura humana, esquemática e repetida, aliada aos símbolos geométricos do círculo e do retângulo, para construir à imagem de si mesmo o grande edifício metafísico que é a sua escultura. O seu trabalho se organiza quer na vertical, quer centrado no círculo. A pluralidade de suas figuras termina por construir imagens de grande equilíbrio e unidade formal. Nas “Rodas Vivas” de G.T.O. o centro é comumente sugerido, mas quase nunca configurado, como nas mandalas orientais. Em “Mitopóetica de nove artistas brasileiros” (1975), reparei ainda na emulação entre abstração e figura na construção da sua linguagem plástica. A multiplicidade de elementos figurais resulta numa trama uníssona que as dissolve no ritmo dos cheios e vazados. Nos blocos formados pelas figuras, a rede humana toca-se pelas extremidades, mãos, pés, cabeças, formando elos infinitos. A mão espalmada, ou tocando outra figura, é o grande elemento de ligação entre os corpos. Barbas e cabelos, por estarem situados na cabeça, sede da espiritualidade, associam-se a esta conotação e irradiam energia. G.T.O. disse-me a respeito de uma figura: “Este aqui é Jesus Cristo, trazendo o povo nas barbas.” O chapéu, além de indicação de virilidade, acentua a importância da cabeça e, por extensão, do pensamento. Os sapatos, além do seu significado fálico, representam ainda o ponto de contato do homem com a terra. Acham-se num nível de passagem, travessia, e são também pontos de ligação entre os módulos humanos. A cabeça, também símbolo da virilidade, é, na arte medieval, com a qual a arte de G.T.O. tem afinidade natural, emblema da mente e da vida espiritual. A figura humana invertida, que igualmente povoa as “Rodas Vivas”, indica a ambivalência dos opostos, colocados acima e abaixo de um eixo horizontal. O mundo fenomênico torna-se então um processo de perpétua inversão: paz/guerra, paraíso/inferno.G.T.O. declarou: “Eu tenho que pôr tudo aí dentro na minha arte, bom e mau, mau e bom, porque tem tudo.” Pequeno Dicionário do Povo Brasileiro, século XX | Lélia Coelho Frota – Aeroplano, 2005