Ana Calzavara
O trabalho de Ana Calzavara desenvolve-se através de diferentes meios como a pintura, gravura, fotografia e mais recentemente, o vídeo. Embora expressões distintas, elas propõem um diálogo entre si, e, não raro, resultam em obras híbridas. Essa característica de estados liminares, do ‘estar entre’, pode ser pensada não só pelo uso que faz das diferentes linguagens em seus trabalhos, mas também pelas resoluções formais e seu próprio eixo conceitual – a variedade em como aborda a paisagem revela um espaço que está sempre prestes a se desfazer e, mesmo quando há a presença ou o diálogo de outros meios como a fotografia, o que vemos, na verdade, é um processo de dissolução do referente. Isso pode se dar de formas distintas, como no enquadramento que abstrai a paisagem, no tratamento dos planos que se embaralham, na ambiguidade do que é cheio e vazio, do dentro e do fora, na imagem apresentada pelo negativo fotográfico, na sequência manca, nas ausências, nos fragmentos, nas repetições, nas narrativas que não se completam. A paisagem, para Ana Calzavara, é espelho de estados contemporâneos, daquilo que é incerteza; é justamente o desmanchar compulsivo dos conceitos fixos, pois, dissolver o espaço é admitir que todas as coisas, mesmo as mais concretas, sólidas, se dissolvem na fluidez das relações sociais. A escolha por meios expressivos como a pintura, o desenho e a gravura, e meios como a fotografia e o vídeo, expõe também sua preocupação em compreender as relações e tensões que possam emergir entre aquilo que é da ordem do fazer manual, corpóreo e físico, e aquilo que é de natureza mecânica, virtual e digital. Tudo isso na tentativa de construir imagens com as quais o espectador seja instado a aguçar sua percepção e a prolongar sua experiência visual. Imagens persistentes, que se recusam a aderir a um pensamento imediatista, num desejo latente de conferir um pouco de espessura a um presente tantas vezes estilhaçado. Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (1992), pós-graduada (Pintura) pela Byam Shaw School of Art, Londres (1998), mestre e doutora em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo (2012), vem realizando exposições no Brasil e no exterior, como as individuais na Casa da América Latina, Brasíia, DF (2018); no Museu da Imagem e do Som, São Paulo, SP (2006); na Casa da Dona Yayá, São Paulo, SP (2006) e no Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP (2000). Também participou de mostras coletivas como Xilo: Corpo e Paisagem no SESC Pinheiros, São Paulo, SP (2019); 4 artistas paulistas, Instituto Moreira Salles, Poços de Caldas, MG (2019); Zureta- International Contemporary Printed Art Exhibition and Symposium, Tóquio, Japão (2018); Ser, habitar e imaginar, Concrete Space, Miami; VIII Premio Arte Laguna, no Arsenale de Veneza, Itália (2014); 8th Biennale internationale d’estampe contemporaine de Trois-Rivière, Canadá (2013); PRINTED, no Pratt Institute, Nova Iorque, EUA (2008); L’art roman vu du Brésil, Anzy-le-Duc, França (2006); National Printing Exhibition, Londres, Reino Unido (1998), entre outras. Suas obras integram coleções como as do Museu do Douro, Portugal; Museu da Universidade de Tókio, Japão; Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS); Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS); Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR); Museu de Arte Contemporânea de Santo André, SP; Universidade de São Paulo (USP) e do Museu Olho Latino, Atibaia, SP. Em 2017, lança o livro Ana Calzavara – entremeios, uma publicação que reúne 20 anos de sua produção, entre pinturas, gravuras e fotografias, pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp).